quinta-feira, dezembro 01, 2005

"Diz sim à vida"


Se nos fechamos à vida estamos a quebrar a corrente que une tudo, estamos a deixar que a energia que há no existir fique aprisionada, como a água num charco. E ficaremos mergulhados num pântano, a nossa consciência separada, criadora de cisão…
A negatividade é o nosso pior inimigo. Se chove e achamos que isso estraga o nosso dia, se faz sol e achamos que isso é mau por causa da falta de Ozono nas camadas superiores da atmosfera, se chegamos tarde à estação e achamos que “perdemos” o comboio… isso pode dar lugar a uma sucessão de “males” que acabarão por alimentar o que, conjuntamente com a frustração, mais nos destrói por dentro: a auto-comiseração.
Se nós sentimos pena de nós próprios queremos ser o centro da atenção dos outros. Achamos mesmo que os outros têm o dever de reparar na nossa tristeza e de reagir a ela, confortando-nos e quando isso não acontece, sentimo-nos injustiçados e a nossa revolta aumenta e com ela a negatividade que esteve na origem de tudo. Não há nada mais triste do que isso, vermos alguém que nasceu para ser gente, que foi trazido à existência para fazer parte da harmonia cósmica, reduzir-se à condição de erro existencial. E quando respeitamos essa pessoa e até recebemos por seu intermédio alguns ensinamentos bem significativos, a coisa torna-se ainda mais “triste”.
Mas a nossa sociedade funciona assim, alimenta-se da tristeza. Nós somos como abutres da desgraça alheia: paramos na estrada para vermos as consequências dos acidentes (no Verão os bombeiros chegaram a queixar-se que os mirones obstaculizavam a sua acção no combate aos incêncios), e não perdemos uma ocasião para mostrarmos o quanto temos pena de quem sofre, seja aqui bem ao pé, seja nalgum escaldante deserto acossado pela fome (que começa, paradoxalmente “aqui” onde as pessoas morrem aos milhares por causa de excessos alimentares).
Muitos dos nossos “problemas” desapareceriam se lhes prestássemos a mínima atenção, se os olhássemos de frente. O que não está em nosso poder não deverá ser para nós um “problema”. Mesmo as situações que nos causam tristeza podem requerer de nós uma atitude de maior atenção ao que se passa em nós e à nossa volta. O “à nossa volta” é muito menos importante do que o que se passa “em nós”.
Não faltam pessoas que se aproximam de nós quando apregoamos a nossa desgraça. Mas o mais importante é vermos que pessoas se alegram com a nossa alegria. É que a negatividade que se instala no coração dos homens desperta um monstro terrível que tudo fará para perpetuar a desgraça e a negatividade: a inveja.
Não sentir inveja é um dos principais sintomas da nossa felicidade. Se somos felizes não sentimos inveja.
Se a vida se resumir a uma guerra de Egos, a uma disputa pela conquista de estatuto e de reconhecimento, então estamos perdidos. Estamos a desbaratar o capital com que fomos investidos pela existência: o sermos capazes de nos admirarmos com o espectáculo do mundo, o sentirmos o apelo do infinito em cada coisa que se nos apresenta…
E o mais é “lixo”, é poluição antropológica

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá!

Tudo bem?
Tenho passeado pelo teu 'blog'.
Escolho este texto e foto para te dizer que gosto muito do que vi e li!
Desejo que continues sempre com essa força que te é tão peculiar.

(o Zé Luis agora está também no Photopoints, o Ricardo mantém-se no Olhares)

Espero que 2006 seja um ano excelente para ti (e teus) e para todos.

Beijinho, bia


(Quando abriste o blog, vi todo o teu trabalho e quando cheguei à 1º foto, comentei, mas fiz alguma 'burrice' que não registou)