segunda-feira, novembro 14, 2005

quanto chão, quanto céu...


quantas vezes este mesmo chão pisei
com pés de menino
de mendigo
de ancião com o peso da vida cravado nos ossos
quantas vezes
olhei este mesmo céu
e vi na abóbada quase sempre a transbordar
o silêncio da noite e a perenidade dos pássaros
quantas vezes
outros homens que passavam
também eles regressados
só que como eu outrora envoltos em esquecimento e vontade consciente
o tempo toca-se nos extremos
é grande a roda da mudança
quantas vezes aqui estive com esperança e sem esperança
com corpo de ser e de não ser
embalado pela mesma melodia da vida a entardecer
a amanhecer
ao sabor da brisa de haver mundo
agora
um momento apenas
ser todos e ser um
o levantar do véu
ah como é solto o ar
como crepita o sol
como a tarde é pão acabado de cozer
no forno da minha tia que já morreu
quantas vezes
este mesmo chão pisou
com pés de menina
de princesa
de anciã com o peso da vida cravado nos ossos
quantas vezes
este mesmo céu lhe beijou a face
envolta em esquecimento e vontade consciente
quantas vezes
esta margem foi um cais
a amanhecer
a entardecer
ao sabor da brisa de haver mundo

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