segunda-feira, outubro 31, 2005

escuridade


em cima como em baixo
dentro é fora
amplidão a latejar
e há voos de ir além
da vontade e da razão calculadora
ser espaço aberto à rota dos pássaros
sem norte nem sul
nem coordenadas de marear com um destino
e ser sem esperar
nas margens líquidas do tempo
a simplicidade que há
a serenidade de estar a ser
a limpidez de nada querer ver
escutar

a fluidez alva de ir ao fundo do sem fundo
o abismo de andar pelo mundo ao vento e à chuva
de sentir a pele tocada por dentro pela voz secreta do Sol
e nas margens do oceano de saber isto
milhões de milhões de milhões de pedaços de matéria
numa sinfonia de cheiros de cores de aproximações
de gente que está a sorrir
de desencontros aparentes de pouco mais do que respirar
atrás de sonhos atrás de névoa e inquietações sem quê
que vale não sorver a vida até ao âmago do desamparo
que vale
que vale não tocar sequer as paredes graníticas de termos nascido
a rotina gasta as solas dos sapatos e a alma das coisas e as coisas da alma
e no uivo dos lobos de tudo ter um porquê
a noite de depois da angústia traz à flor das águas de haver razão
a lembrança do que nunca foi

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