segunda-feira, outubro 24, 2005

A sério...


E a vida não é uma competição. Mesmo que pareça.
Podemos mostrar aos outros a máscara que mais nos serve, de acordo com as circunstâncias.
Mas atrás da máscara nada mascara o vazio, quando ele existe, a negatividade, quando ela é feroz.
E o medo.
Há pessoas que são habitáculos do medo. E que se agarram ao que é negro e sombrio.
Mas só falha quem se falha. Só tem falta de amor quem não se ama, quem acha que o amor é uma fuga.
Se algo nos falta, no âmago mais profundo do que somos, nada pode vir de fora completar-nos.
E o mundo será uma planície de terras áridas e um ermo sem qualquer abrigo.
E basta tão pouco para termos tudo.
Há pessoas que piedosamente falam das crianças que morrem de fome, nas terras que o egoísmo ocidental condenou à miséria. Como combater esse mal, se somos pequenos e esse problema é imenso?
O combate aos males do mundo começa bem dentro de nós. Há muitas pessoas com um Biafra bem dentro do coração, onde a fome se instalou ao longo do tempo e onde nada parece trazer alívio e serenidade. É por aí que se deve começar. Sem alarido. Só recebemos se dermos. E o que é dado neste mundo consumista parece que não tem valor. Andamos por isso sempre envolvidos em qualquer forma de troca, mas com a secreta esperança de sermos reconhecidos, "por nós", pelo nosso valor intrínseco. Pura ilusão.
De facto, o que procuramos promover é o que em nós não tem valor. É moeda falsa.
"QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR NÃO SERVE PARA VIVER". Desde a adolescência que este lema não me sai da cabeça. Já o vi na parede de instituições que, apesar das boas intenções, promovem a exclusão, uma vez que a caridade não é o dar esmola, é o termos a coragem de pedir esmola. A coragem de estendermos a mão, de nos entregarmos à fraternidade, de dizermos aos outros, "irmão, preciso de ti".
E o medo tolhe-nos, inibe-nos. O medo da morte, o medo da solidão, o medo do medo.
E o medo da rejeição.
Por isso podemos sentir-nos tentados a entregar-nos aos mecanismos de discriminação que os diversos grupos socias põem à disposição da nossa frustração. O querermos ser melhores que os outros, o procurarmos ocasiões para mostrar que somos mais que os outros, muitas vezes quando os outros são impossibilitados de estar em igualdade de circunstâncias... Se entrarmos numa corrida em que os nossos adversários estão com as pernas partidas, ganhar talvez seja uma inevitabilidade. E contudo há quem pule de alegria ao cortar a meta...

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