terça-feira, fevereiro 21, 2006

nadifonia


No lado de dentro da noite
as esquinas das coisas são de gelado de limão
quase a brilhar de tanto tempo a derreter
e as bocas de sermos com a altivez de papel de embrulho
sorvem o silêncio gota a gota até à saciedade possível
nas horas de pranto lento em banho-maria
de solidão e ovos escalfados com universos por nascer
a boiar-lhes na gema quase a solidificar
e a fome não cessa
a fome de ter uma pele que voe para lá dos espaços do contentamento
vela de ir ir à Índia retesada no mastro de querer vencer o tempo
e a quietude da melancolia das árvores
e os olhos
são dois buracos na parede do peep-show da vida
moeda a moeda
a realidade despe-se e mostra a sua nudez sem ternura
pássaro morto na gaiola dourada do desejo
não ter um eu
é uma saída
a chave é a alegria de nada querer

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