sábado, outubro 22, 2005

os "nós" que somos


Os nós da vida. Fazem-se e desfazem-se. Com ritmos.
Somos percorridos por movimentos que nos ligam ao que nos rodeia. Roda viva o mundo.
E os outros estão nessa teia. Em busca de sinais, mesmo que o não saibam.
E por vezes nós somos sinais, por vezes ofuscamento.
Há encontros que não se cumprem e desvios que nos fazem encontrar o que nunca encontraríamos, se seguíssemos o rumo recto da nossa vontade.
Inflexível só o que acaba.
Viver é estar a ser. Não é uma sucessão de imobilidades.
Mas é isso que geralmente esperamos dos outros, que sejam inflexíveis e se mantenham no rumo que as nossas expectativas antecipam.
Puro engano.
Amar é ser mais e é dar liberdade, semear liberdade. Contra tudo o que torna os homens acomodados.
Quem ama querendo fechar os outros na redoma asfixiante de um sonho egótico, falha por completo o amor, pois quando dois egos se encontram o que querem é aprofundar o seu vazio, retesar as cordas das suas rotinas.
O mesmo entre pais e filhos. Os pais querem que os filhos tenham sucesso na vida, que cresçam, que se façam adultos responsáveis, tudo de acordo com um plano sonhado pela consciência paterna e materna. Só que os filhos pertencem a outro "filme". Não vêm ao mundo para continuarem a história dos pais. E são para outro tempo, para outros desafios.
Cada ser humano traz em si a semente de um mundo novo. Poucos descobrem isso. Quase todos se deixam levar pela correnteza do tempo que continua. Mas nós só crescemos com o tempo que inicia. É a questão do ritmo. Momentos de pausa, momentos de recuo, momentos de avanço, recomeços, continuações, a vertigem de podermos ser mais, a desilusão de estarmos amarrados à rotina e à repetição.
O amor dilacera o ego. Queima as entranhas da nossa vaidade, torna-nos perenes, como a brisa da manhã ou as ondas do mar, sempre diferentes, nunca se repetem, embora o seu acontecer se dê numa repetição que, paradoxalmente, nunca é repetitiva. Mas só o amor liberto, o amor que não tem "ses" nem "mas".
Por isto, o mais difícil da vida é desatarmos os nós, cortarmos as amarras, sermos livres não deixando que nada de limitado nos limite, posto que se tivermos o infinito como limite da nossa finitude, crescer, evoluir, expandir as profundezas que nos habitam, será tão natural quanto respirar.

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