tag:blogger.com,1999:blog-181220442024-03-13T04:59:35.271+00:00alba azulTudo o que vem à tona dos dias pode ser um apelo.
A nossa atenção por vezes está presa a outros afloramentos da vida, muitas vezes a ilusões e a coisas que já passaram. Por isso não reparamos no que nos é dito.
Parar, escutar e olhar: o lema válido para todas as "passagens de nível".Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.comBlogger40125tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-26002571467272549832017-07-23T10:41:00.000+01:002017-07-23T10:41:42.928+01:00A Cultura<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-euVFspKG8BY/WXRvPpFAV9I/AAAAAAAAB24/HHMLFiHBY6AGxsYmar0MrTonNowku42hgCLcBGAs/s1600/DSCF4347s%2B%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="302" data-original-width="400" height="301" src="https://2.bp.blogspot.com/-euVFspKG8BY/WXRvPpFAV9I/AAAAAAAAB24/HHMLFiHBY6AGxsYmar0MrTonNowku42hgCLcBGAs/s400/DSCF4347s%2B%25281%2529.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
Portugal projecta-se como um espaço de convivialidade cultural (inter-entre-pan/cultural) a partir do qual a experiência da identidade pode assumir-se como uma via de consumação do Universal na individuação espiritual, ou seja, na abertura ao abissal da com-vivência, no qual o que se descobre limitado procura a completude e a superação da cisão, existencial, territorial, grupal, etc.<br />
A individuação espiritual, apesar de paralela ao egotismo, ao nacionalismo, ao internacionalismo totalitário, não se confunde com estas formas de deturpação do sentido e da finalidade da vida espiritual. Seria sempre terrível vivermos a limitação como o próprio do Espírito, quando Este se oferece na liberdade irrestrita, sempre como absolução do relativo, como sublimação da concretude solidamente fechada em si, como, enfim, emancipação através da qual os simples gestos da existência assumem um significado plenificante.<br />
Se nos descobrimos como seres com múltiplas limitações físicas, psíquicas, noéticas, práxicas… é porque estamos a tomar consciência das nossas ferramentas agápicas (e eróticas, Eros absolutiza-se em Agapê), do nosso manancial de recursos inerente à nossa condição de seres capazes de amar, de seres que no Amor encontram a sua mais viável e sólida capacitação.<br />
Assim, tanto os dons como os bens que possuímos ao nível da existência material, são inerentes à nossa condição de conviventes, de seres de expressão e conversão, de conversação. Há uma filologia vital que nasce da descoberta do Espírito como o que rasga o hábito (a rotina) e a descrença na vida sem limitações extrínsecas. Isto é válido também para os povos: as fronteiras são pontes, são instâncias de abertura.<br />
O Outro só existe como o que se opõe ao Mesmo se não acedermos ao que é próprio: o que é próprio é que cada ser é único e na sua irrecusável liberdade não tem que ser conforme a nada de exterior ao seu fluxo vital, ao seu sopro insubstante, à sua realeza sobre este mundo.<br />
Não há estrangeiro, nem nacional. No mundo do Espírito não há máquinas totalitárias de criação de espaços de contenção da convivialidade fraterna. Por isso as Línguas são a manifestação mais pura do fogo do Espírito. Uma Língua não é uma entidade fechada, não é um dispositivo de sujeição espiritual, antes um território utópico que está continuamente, enquanto for vivo, animado por um influxo de transubstanciação, de transmutação, de abdicação de si numa projecção para a universal entre-expressão que, se alguma vez atingida, tornará as Línguas e os seus falantes capazes de tudo dizer e de tudo entender, com ou sem palavras, pelo Amor.<br />
Uma Língua não é uma mercadoria, nem deve servir para criar ‘mercados’ de desumanidade. Porque aos não falantes duma Língua não lhes falta nada, em nada são menos ou mais que os outros. E só haverá Paz no mundo através da vida do Espírito. Isto quer dizer que tudo o que servir para discriminar os seres uns em relação aos outros, enquanto existir, será um obstáculo à Paz.<br />
Nada existe que não seja resultante da co-presença de tudo em tudo.<br />
Daqui resulta que a nossa apropriação do mundo deve ser ética. Antes de tudo o mais o que importa é a nossa abertura compassiva em relação ao que de nós poderá ser requisitado pela patência do Amor. É no ser-com que o nosso ser assume a sua verdade existencial.<br />
A Cultura irrompe deste espaço de disponibilidade grácil, desta exuberância radical de que tudo nasce e que permite a criatividade como o que brota da mente, vindo de além e indo para além dela. Aquilo a que comummente se chama “cultura” surge quase sempre sem nascer, não ‘brota’ do sem fundo, é produzido, surge no mundo investido daquela dispersividade egolátrica que gera a inveja, a arrogância, a consciência alienada para a qual o mundo só pode ser um concurso de aves canoras sem a possibilidade de consonância. É a concorrência das máquinas cadavéricas que adiaram sine die o seu Encontro com a vida para, na certeza da morte, erigirem o seu mausoléu, recheado com tudo o que em si mataram de belo e de bom, em nome da ‘fama’, da ‘posteridade’, da ‘notoriedade’.<br />
A Cultura, no seu sentido autêntico, é a convivência dos criadores na liberdade sem limites do Espírito. Criadores são todos os que se descobrem em ruptura com o viver domesticado, tornado mercadoria, esventrado de todas as entranhas de onde a insubmissão pode ganhar forças e voz. Criadores são os que assumem a patência do Infinito no finito. Podem ser pintores, escritores, sem-abrigo, crianças a brincar na rua, idosos a jogar às cartas no jardim, mulheres, homens, pássaros, cães, cientistas, malabaristas, inventores… Entre uns e outros venha o diabo e escolha. A escolha diabólica nunca é criativa, a criatividade é simbólica, por isso os seus frutos (o termo ‘obra’ está demasiado contaminado pela sujidade da Razão Pura) são sempre maduros, ou seja, nunca estão acabados porque abrem sempre para o que deles poderá nascer, resultado de germinação ou contaminação.<br />
Não faz sentido preterirmos este ou aquele indivíduo em nome do que quer que seja que nos permita compreender o incompreensível. Embora tenhamos que nos manter inamovíveis na imensidade. Não significa isto, portanto, que tudo é aceitável. Há um combate radical a empreender em qualquer via espiritual, um combate afirmativo, de fidelidade à verdade da vida uni-multímoda. Cada acto de criação instaura uma fonte de sentido que pode elevar quem dela beba ao estatuto de criador. Criar nunca é um acto isolado, é uma ferida na pele coriácea do mundo da oferta e da procura. A doação e a aceitação em (com) reconhecimento, isso deveria ser a base da divina economia do mundo, da eudemonia política.<br />
Possam os dons da Cultura ser gráceis. E que o sermos em sociedade possa expandir-se no Reconhecimento e na aspiração à disponibilidade para o Imprevisto.Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-8576672618269658912011-02-23T18:02:00.000+00:002011-02-23T18:02:10.539+00:00INTERDEPENDÊNCIA OU MORTE! Ricardo Guimarães<iframe src="http://player.vimeo.com/video/20074800" width="400" height="300" frameborder="0"></iframe><p><a href="http://vimeo.com/20074800">TEDXRio | Bloco1 - Visões | Ricardo Guimarães</a> from <a href="http://vimeo.com/tedxrio">TEDxRio</a> on <a href="http://vimeo.com">Vimeo</a>.</p>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-71339310488982894972010-07-21T16:02:00.001+01:002010-07-21T17:54:51.384+01:00"People are strange"<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/TEcMXgFyVyI/AAAAAAAABFQ/j41M2nk_aoo/s1600/DSCF4793s.jpg"><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 400px; height: 300px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/TEcMXgFyVyI/AAAAAAAABFQ/j41M2nk_aoo/s400/DSCF4793s.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5496375468119709474" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; font-size:10.0pt; mso-ansi-font-size:10.0pt; mso-bidi-font-size:10.0pt; mso-ascii-font-family:Arial; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Arial; mso-bidi-font-family:Arial; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page WordSection1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.WordSection1 {page:WordSection1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Quantas vezes nos descobrimos desconexos com a vida? O tema dos Doors <i style="">‘people are strange’</i> aflora essa atmosfera emocional meio nostálgica, meio depressiva em que mergulhamos quando nos apercebemos do abismo que nos separa dos outros.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A maior parte da vida social transcorre sob o signo da máscara e da busca de aceitação. A nossa vida é, em grande medida, egolátrica. E o ego cimenta-se na nossa interioridade através do medo e da culpa. O nosso ego sabe que os outros egos se alimentam do mesmo tipo de negatividade, daí que grande parte da nossa vida social assente na tentativa de manipulação dos outros egos para que se submetam aos nossos intentos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Há muitas formas de chantagem emocional. Todas elas viradas para o reforço do ego e da sua intenção de instaurar um regime de terror na nossa vida. E de que temos medo? Temos medo de não sermos amados, de não merecermos o amor, de nos vermos ostracizados, rejeitados pelos outros egos. Mas no fundo o medo é uma manifestação de vitalidade do ego e a pior forma de manipulação e de chantagem: a do ego sobre a totalidade da nossa mente. É como se um grão de pó quisesse estender o seu domínio sobre todo o universo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ora, a nossa mente não tem limites, é uma extensa praia para o infinito. Uma praia onde tudo se encontra em vias de consumação. O sofrimento empareda-nos numa cela de egotismo e impede-nos de acedermos ao apelo do mais fundo. Para onde quer que nos desloquemos estamos prisioneiros da nossa própria insatisfação. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Para nos descobrirmos libertos o primeiro passo é o fazermos as pazes connosco e com a nossa vida. A aceitação do que somos é o mais profundo acto de revolta contra tudo o que nos infunde tristeza e desolação. E é a coisa que o ego mais teme: que passemos a viver a vida na serenidade que nasce de nos sabermos ligados a tudo. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nada pode cortar essa ligação umbilical entre tudo o que há. Mesmo que esse tudo seja um nada superabundante. E feitas as pazes connosco e com a nossa vida, não adiantará mais chorarmos sobre o leite derramado, por assim dizer. O que aconteceu, aconteceu, nada poderá mudar o passado. Mas podemos mudar a nossa atitude face ao passado, em vez de o tomarmos como uma carga de dor de que não nos podemos descartar, vale a pena encará-lo como aquilo que em realidade é: uma não existência, posto que agora só existe o presente e é para o presente que nós vivemos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas isto é algo de muito batido. Uma das crenças que o ego infunde é de que a verdade tem que ser conseguida à custa de elaboradíssimas pesquisas, tem que vir revestida da autoridade de pessoas que estão muito acima do resto da humanidade. O que nos leva a desvalorizar muitas pessoas que consideramos menos dotadas, ou menos cultas. Mas as grandes verdades estão ao alcance das mentes mais simples. E as mentes mais simples são as que estão mais abertas ao infinito. Tão abertas que não vêem a necessidade de construir os imensos castelos de areia com que se afadiga o ego da maioria das pessoas. No fim de contas todos esses castelos se esboroam, seja qual for a intenção que os erigiu. O lugar de chefe dos egos ávidos de reconhecimento dura pouco. As riquezas por mais opulentas não podem aumentar um segundo o tempo de vida de quem as detém, apesar do dinheiro poder comprar os mais avançados cuidados médicos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Quem quer ser milionário? Haverá alguém que não queira ser milionário? O que leva pessoas com oitenta e muitos anos a jogar no euromilhões? É claro que têm esse direito, mas penso que hoje em dia é difícil de perceber a atitude contrária: o não querer ser milionário. E há várias consequências disto que são interessantes, em primeiro lugar, haver milionários não levanta problemas. Embora as pessoas critiquem a existência de desigualdades sociais, não consideram obsceno que existam pessoas, e organizações, que possuem não só mais do que os outros, mas muitíssimo mais, como se esse desequilíbrio na distribuição da riqueza fosse meramente aparente, ou seja, como se a riqueza e a pobreza não pudessem ser faces da mesma moeda. O que atira os pobres para o campo dos falhados, dos que não souberam fazer-se à vida, dos que, também, não tiveram sorte, o que desculpa os ricos, pois a sorte não se discute, é uma das leis da vida (de acordo com esta visão distorcida das coisas).</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A aceitação a que me refiro não tem a ver com esta resignação face às injustiças. É algo de mais profundo e que está fora desta lógica. Uma pessoa pode aceitar-se e, ao mesmo tempo, pode lutar pela justiça social, não há contradição nenhuma nisto. O que acontece muitas vezes é que as pessoas se culpabilizam pela sua situação. O medo e a culpa ajudam à manutenção deste estado de coisas inaceitável. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por isso há que mudar a forma como encaramos a sociedade. E o nosso papel nela. Por mais que sintamos o abismo que nos separa dos outros, o que precisamos de não esquecer é que esse abismo resulta das estratégias do ego para tomar posse da nossa existência. O melhor a fazer é tomarmos consciência disso como um sintoma do egotismo de que se entretecem as relações humanas.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-21525764702698633892010-01-03T21:51:00.000+00:002010-01-03T21:52:03.726+00:00Educar. Para quê? Para quando?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/S0EQWPMSsFI/AAAAAAAABBs/0fUL7llguSg/s1600-h/semeador1.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 325px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/S0EQWPMSsFI/AAAAAAAABBs/0fUL7llguSg/s400/semeador1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5422633400552042578" border="0" /></a><br /><br /><div style="text-align: justify;">Revisitemos a alegoria da caverna de Platão. Um dos textos fundadores do Ocidente.<br /><br />Mas note-se que a imagem da caverna está presente, de forma não negligenciável, no pensamento oriental. Isto só para lembrar que no que se refere ao pensamento, as portas nunca abrem só para um lado.<br /><br />É impossível aprofundar a análise desta peça da tecitura da metafísica ocidental, naquilo que ela tem de fundante e de constringente para a nossa contemporaneidade pensante, sem seguir os veios comunicantes que a ligam ao resto da obra em que se insere, a República, e daí para o todo do corpus platónico, pelo que nos ficaremos pela alusão, esquemática e superficial, a alguns dos aspectos da alegoria, sem procurar aprofundar a nossa análise da alegoria enquanto alegoria, da sua intencionalidade exemplificativa.<br /><br />Um dos aspectos que considero mais marcantes é o facto de Platão nos apresentar uma caverna construída pelo homem, trata-se dum dispositivo (uso aqui este conceito em proximidade a Foucault e a Agamben), mais do que uma disposição natural da espacialidade narrativa, que introduz na narrativa uma meta-temporalidade, o tempo da construção da caverna, submetido a uma intencionalidade que não influi directamente no sentido marcadamente analógico da alegoria, mas que pode levar mais longe a apropriação analógica do sentido da alegoria: somos nós que estamos a ser representados, nós, os destinatários do relato, numa interpelação que é, ao mesmo tempo histórica e meta-histórica – no fundo, Platão aflora a temporalidade escatológica ao representar a condição dos homens no seu enraizamento histórico-cultural e não apenas a condição dos atenienses do seu tempo. Tal como a sua República será o corolário duma meta-política, na verdade a metafísica instaura-se, desde Platão, como uma versão totalizante da soberania, a caverna é a sua legitimação irónica.<br /><br />Encontramo-nos sempre numa actualidade que resulta dum conjunto de condições prévias. Condições essas que podem servir como condicionantes ou como vias de realização do nosso potencial existencial. E nenhuma actualidade é, por si só, isenta de constrangimento e de obstáculos ao desenvolvimento do pensamento livre e da vida emancipada. E a emancipação a ser vivida terá que sê-lo a partir do protagonismo do indivíduo que existencialmente enfrenta os obstáculos que a sua vida lhe proporciona.<br /><br />Educar, na perspectiva platónica, é abrir espaço ao desabrochar da auto-descoberta da verdade, encarada como o sentido de toda a experiência e de toda a volição. O problema que se nos coloca, e que Platão a seu modo solucionou a partir da sua ontologia erroneamente considerada dualista, uma vez que a sua visão crepuscular do ser e da verdade pressupõe uma continuidade que só extrinsecamente se pode considerar ilusória, é o de saber como enfrentar o abismo do íntimo sem o esteio duma metafísica que absolutamente funde todo o relativo.<br /><br />Assim, a caverna pode, com a sua força analógica, lançar uma luz inquietante sobre a Escola. A Escola é um dispositivo de sujeição ou de emancipação? Ela é, tal como a caverna, uma construção humana, uma construção social. Na sua base está um conjunto heterogéneo de investimentos duma imaginação colectiva que visa a reprodução duma imagem da sociedade tida como tradicional, como digna de ser reproduzida e transposta para o futuro. Mas o que temos de facto é um conjunto de estratos resultantes da sedimentação da vida política, cultural, social, das sociedades ao longo de períodos mais ou menos longos. Até as rupturas deixam marcas e destroços. E perdem o seu sentido originário.<br /><br />No que diz respeito à sociedade portuguesa, mas isso também é visível em todas as sociedades ocidentais, a escola tem sido o principal objecto de investimento sócio-político. A Primeira República, por exemplo, tem uma intencionalidade pedagógica, nem sempre objecto de sistematização, que se manifesta no investimento na escolarização, insuficiente mas visível, e na retórica de regime que procura dar sentido ao caos que se vivia e que acabou por abrir espaços à ditadura , o pior flagelo da nossa história colectiva.<br /><br />Estamos hoje muito longe dos mais de 70% de analfabetos com que Portugal entrou na primeira década do século XX. E não nos iludamos: esse percentil é uma consequência da grande assimetria social que sempre caracterizou a sociedade portuguesa, é um sintoma indesmentível da injustiça social.<br /><br />Cem anos passados não nos libertámos ainda desse paradigma social. E se se tem a consciência de que a Escola é o tabuleiro onde se joga muito do que poderá ser a justiça social, não podemos ficar indiferentes em relação à forma como se instituiu a insularização social da Escola e ao aprofundamento desse processo nas mais recentes medidas de política educativa.<br /><br />A Escola estrutura-se como um dispositivo de segregação social das crianças e dos adolescentes, para não falar das crianças portadoras de deficiência (por que razão o tema da deficiência raras vezes surge como digno de ser pensado, e de ser vivido ,quando se trata de pensar e re-pensar a sociedade?). Não há nenhuma razão para impedir que a escola seja um ambiente de interacção geracional.<br /><br />Esta segregação social das cianças, agrupadas e estratificadas em segmentos etários, impede a educação para a diversidade e a diferença. Gera egocentrismo e indiferença em relação ao outro e impede que se experiencie o saber como sabedoria. Aliás, o que acaba por ser exilado da cidade ideal não é, hoje, o poeta, mas o sábio. A cidade ideal da era da informação vê na sabedoria a loucura a exorcizar. A sabedoria faz baixar o valor de mercado da informação. Põe em causa os sistemas de valor que transformaram, progressivamente, o saber e a cultura, em mercadoria.<br /><br />A cultura não se consome, consuma-se.<br /><br />O sábio é o que recusa o estatuto de produtor (a cultura não se produz nem se consome) e o de mero consumidor/espectador cultural e assume, de forma plena e nunca preterida, o estatuto de criador. O leitor dum poema é, ele próprio, poeta, o mesmo acontece com quem, agostinianamente, assume a vida como poesia.<br /><br />Os alunos são colocados na escola como integrantes dum sistema de indução do saber, do saber-feito, e não de indução ao saber, encarado como sabedoria.<br /><br />Na alegoria da caverna, um dos prisioneiros é solto das amarras. Esse não é um acto de libertação. Paulo Freire descobriu bem cedo nas suas experiências pedagógicas junto dos oprimidos que uma das características da mente oprimida é o medo da libertação. Isto porque a opressão assenta em mecanismos de coacção física (o domínio sobre os bens necessários à vida, a sua distribuição mediada por mecanismos criadores de escassez para obrigar os pobres a trabalhar) e em mecanismos de dissuasão da tomada de consciência da situação de opressão e das vias que poderiam levar à libertação. Estes mecanismos de dissuasão são muito mais coersivos do que os mecanismos físicos de coação. Os indivíduos poderão mesmo ser levados a estimar a sua servidão. As retóricas dos nacionalismos patrioteiros têm servido esse propósito: 'nós todos amamos a Pátria e a Pátria ama-nos a todos, mas tu, por seres inferior, tens que trabalhar sem outra retribuição do que a miséria da tua situação'. A questão está em saber quais os critérios de discriminação entre seres humanos. E é aí que reside a estupidez do pensamento monárquico moderno. Que Rousseau desmontou com uma lógica inabalável: se formos todos descendentes de Adão, não temos todos o direito ao trono? No fundo, colocar a desigualdade como critério de soberania é impedir a vigência da Frátria. E por que razão grande parte da humanidade, e dos nossos concidadãos, se quisermos ficar-nos pelas fronteiras em que nos enclausuramos, deve ser reduzida a um estatuto de menoridade em termos de cidadania e de espiritualidade?<br /><br />O acesso à auto-estima e à consideração social, essas as 'torneiras' que a escola começa por controlar no sentido de conseguir a acomodação social dos indivíduos. Os alunos com inteligências mais criativas, menos subjugáveis à mecânica da indução do saber, são tratados como párias, vêem a sua auto-estima sistematicamente destruída, ao passo que os que têm uma inteligência mais amestrável e mais subjugável aos regimes da ruminância curricular, são elogiados e incentivados.<br /><br />Como diz Marx nas Teses Sobre Feuerbach, 'o educador também precisa ele de ser educado'. É esta a situação dilemática a que a alegoria da caverna nos conduz: como libertar, libertando-nos? E como libertar sem estar a criar novas instâncias e dispositivos de servidão e de subserviência?<br /><br />O homem desacorrentado e projectado para fora da caverna atinge, nesse momento, o pico da sua opressão, porque deixa de ter razões para se considerar uma vítima dum processo que lhe escapa: sem as correntes, sem estar preso dentro da caverna, a sua sujeição é uma coisa sua, como sempre fora. O mesmo será a sua libertação. Que só o será autenticamente quando toda a sujeição for ultrapassada, ou seja, quando todos se virem como libertos, quando todos conseguirem aderir à sua própria liberdade.<br /><br />E não estamos melhor posicionados, na nossa actualidade, para prosseguirmos este esforço de emancipação. Não é verdade que tenhamos assistido ao fim das ideologias. Não vivemos numa era pós-ideológica. Muito pelo contrário, vivemos imersos num contexto repleto de dispositivos de alienação, de persuasão e de dissuasão. A própria ciência e a técnica, seguindo muito de longe Habermas, mas muito de longe, são, potencialmente e em acto, ideologia, têm funções políticas que não podem ser esquecidas. É isso que dá sentido à mentalidade tecnocrática que se infiltrou nos sistemas políticos modernos. E as ditas ciências humanas também estão implicadas neste processo. Como se vê hoje com a nova dogmática, a Economia. As reformas sociais, as mudanças políticas, têm como limite os ditames dessa ciência anfibológica.<br /><br />Ora, o próprio 'saber' escolar (escolástico) é em si próprio ideológico. Não que não deva ser ensinado. É que o ensinar para a sabedoria é uma prática que na antiguidade se designou como Filosofia. É que não basta só ensinar, há que criar o hábito do recuo crítico e projecção ética.<br /><br />E em relação a isso há muito que pensar e discutir. Porque na nossa actualidade, como em todas as outras, a Filosofia deve ser decisiva. Digo 'deve ser' porque muito do que se publica e ensina como 'filosofia' não passa de neo-retórica e de pseudo-saber, um jogo de jogos de linguagem, uma mimética de linha de montagem. Quantos dos investigadores na área da Filosofia não são meros repetidores do já dito e pensado, meros cultivadores dum saber vegetativo? Estando por inventar um aparelho que funcionasse no cérebro como um desfibrilador da inteligência, a tarefa do Filosofar pode ficar por cumprir por falta de comparência do Sujeito capaz de Pensar.<br /><br />Mas este recuo crítico e esta projecção ética não podem ser induzidos, não podem ser 'ensinados' porque aí seria parte da estrutura constringente da caverna. Têm que ser vividos como o próprio do aceder à consciência. O sermos capazes de negação sem negatividade, de pôr em causa o dado e o afirmado e, ao mesmo tempo de, sem negatividade, enfrentarmos o outro como indissociável da nossa humanidade, é isso que nos torna capazes de assumir o profundo e o elevado da nossa condição.</div>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-53943036326014075412009-12-14T12:07:00.001+00:002009-12-14T20:39:44.932+00:00Hopenhagen: foi você que pediu um desenvolvimento sustentável?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.ogilvyone.gr/files/shared-images/hopenhagen_city3.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 425px; height: 225px;" src="http://www.ogilvyone.gr/files/shared-images/hopenhagen_city3.jpg" alt="" border="0" /></a><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Arial","sans-serif"; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; font-size:10.0pt; mso-ansi-font-size:10.0pt; mso-bidi-font-size:10.0pt; mso-ascii-font-family:Arial; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Arial; mso-bidi-font-family:Arial; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:595.3pt 841.9pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">As Nações Unidas tentaram modificar a atitude dos Estados para com o meio ambiente, com uma série de conferências que visava o estabelecimento de acordos internacionais que permitissem articular uma estratégia global para a preservação do meio ambiente. </p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Por muito que se fale hoje nas alterações climáticas decorrentes da industrialização, já na conferência de Estocolmo, em 1972, foram apresentadas evidências científicas do impacto da acção humana no clima, para além de todo um manancial de dados sobre a contaminação dos solos e dos habitats marinhos à escala global, bem como sobre o desmatação, em processo acelerado, cujos efeitos se vieram a tornar cada vez mais evidentes.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Nessa altura o acordo falhou porque os países ditos sub-desenvolvidos e que hoje em dia são designados, eufemisticamente, países em desenvolvimento, quiseram fazer valer o seu direito ao desenvolvimento pleno, em pé de igualdade com os países ricos que tiveram a oportunidade histórica de se desenvolverem sem entraves a ponto de abocanharem grande parte dos recursos do planeta.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Vinte anos mais tarde, na conferência do Rio, embora se tenham lançado as bases do acordo que seria alcançado cinco anos mais tarde, em Quioto, o mesmo argumento fez-se ouvir com mais insistência, com o Brasil a liderar os esforços dos países que partilham a Amazónia para impedir uma internacionalização jurisdicional da Amazónia e das outras manchas de floresta tropical. O que se pretendia era que a Amazónia fosse declarada uma reserva ecológica com o mesmo estatuto da Antárctida. </p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Hoje a área florestal do maior pulmão do planeta está muito reduzida se comparada com a sua extensão em 1992 e a desflorestação continua a um ritmo cada vez mais acelerado, com a agravante de ser levada a cabo através de mega-queimadas, com o elevadíssimo custo em emissão de gazes provocadores do efeito de estufa. A contribuir para isso, de forma paradoxal, está a busca de alternativas aos combustíveis fósseis virada para o biodiesel, afinal o último recurso para salvar o paradigma do motor de explosão e a actual configuração da indústria automóvel. </p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Esta pressão provocada pela produção de combustíveis ‘verdes’ leva à necessidade de aumentar a superfície arável e, também, de aumentar a percentagem de terras aráveis dedicadas à produção de matéria-prima para a nova indústria dos combustíveis. Isto teve uma consequência terrível na vida das populações mais pobres, uma vez que o preço dos alimentos à base de cereais passou a estar indexado às oscilações do preço do petróleo, o que levou a que os mesmos especuladores que, ao que parece, precipitaram a actual crise económica, se tenham refugiado no mercado de futuros, hipotecando a sobrevivência de milhões de seres humanos, uma vez que esta pressão especulativa faz disparar os preços das colheitas e, consequentemente, dos alimentos processados.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Assim, o aumento da superfície arável não contribuiu para diminuir a escassez alimentar, antes é um dos principais factores do seu aumento.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">A par disto há a autêntica invasão de África por países como a China e a Índia nos quais a pressão demográfica exige um crescente fornecimento de alimentos, matérias-primas e combustível. Como consequência estão a surgir gigantescos complexos agro-industriais em países praticamente sem uma agricultura local, verdadeiramente sustentável em articulação com a vida cultural das comunidades locais. Esta começa a ser neste momento a principal ameaça à sustentabilidade alimentar dos países mais pobres.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">E neste sentido a política diplomática da nova administração americana em relação a África não traz nada de novo, o que se tornou bem visível no périplo que a Secretária de Estado Hillary Clinton fez por alguns dos mais importantes países africanos, no que diz respeito à sustentação da actual ordem económica mundial, planando olimpicamente por cima das questões relacionadas com os direitos humanos e as assimetrias económico-sociais. </p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Ainda está por contabilizar o peso das chamadas tecnologias verdes no agravamento da situação dos povos à beira da ruptura alimentar. É que a questão não está apenas na diminuição das emissões, ou no uso de alternativas menos poluentes, mas à sustentação do actual sistema económico que está a aumentar exponencialmente a escalada da industrialização, em vez de se diminuir a produção desenfreada de bens que têm uma mais-valia pulsional, mas quase nenhum benefício na sustentação duma vida humana em plenitude, continua a alimentar-se a neuro-esfera planetária com uma supra-estrutura de produtos imediatamente consumíveis (também no horizonte dito cultural), sustentada numa infra-estrutura produtiva completamente desenraizada da vida comunitária, da cultura das comunidades de base e do ritmo, esse sim ecológico, duma vida individual e colectiva em comunhão com a Natureza.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Neste sentido, Copenhaga será uma resolução do problema através da elisão das arestas do problema, num processo de dissuasão do questionamento e da crítica livre e profunda. E o que é sintomático de que há algo de muito importante em jogo, é que se consegue transformar os tradicionais mecanismos de emancipação em formas de dissuasão: o apelo a uma cidadania global, a ideia de que os líderes estão a ser liderados pela opinião pública global, quando isso não é verdade, uma vez que os Estados ganham direito de cidade mesmo se continuam a desrespeitar os direitos humanos, sem diminuírem a carga de sofrimento que hoje impõem aos seus povos e aos povos por si dominados. (Quanto à autêntica cidadania global, veja-se a entrevista, preclara e muito oportuna, concedida por Fernando Nobre ao jornal Expresso na sua última edição).</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Esta manobra de dissuasão leva a que os chamados ‘povos’ indígenas sejam apresentados como ex-líbris desta ‘conferência da esperança’, numa decapagem mediática das camadas de ruído subliminar que a consciência da verdadeira situação desses povos poderia acrescentar à mensagem. Há, então, uma absolvição dos crimes contra a humanidade sob a forma dum manto verde que se espraia sobre um planeta em convulsão e onde o espectáculo mediático gastou a força constritora das imagens da fome de das crianças esqueléticas – que, por estranho que pareça, existem hoje num número muito maior do que em qualquer época anterior.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">E este é um ponto decisivo: só haverá uma autêntica revolução ambiental no mundo quando os direitos humanos forem reconhecidos como o centro das mudanças a realizar. E forem encarados como uma via para o reconhecimento da senciência como a base de qualquer tipo de respeito, não excluindo, assim, todos os seres vivos.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Neste ponto tocamos no nó górdio do que urge combater: só quando se colocar em cima da mesa o actual conceito de desenvolvimento, encarado como um progresso indefinido, sempre crescente, para se equacionarem outras formas de crescimento, e entre elas considerando o crescimento espiritual como o mais precioso e benéfico, é que os actuais problemas serão atacados de forma séria.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">O mito do progresso que alimentou o imaginário iluminista é o pior veneno que a civilização ocidental tomou e deu a tomar ao resto do mundo. O progresso, sem autêntico regresso é uma ilusão desumanizadora e castradora em termos espirituais. Temos que ser capazes de compreender até que ponto, ou a partir de que ponto, produzir mais é produzir demais. <span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; line-height: normal;">Qualquer outra via, seja qual for a sua dimensão, será comparável a querer retirar o carbone das garrafas de pirolito. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-39357471203950057562009-11-18T00:16:00.000+00:002009-11-18T00:17:30.159+00:00Quem precisa dum farol?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/SwMrUk6PsAI/AAAAAAAAA-g/tWAduQiD4zg/s1600/DSCF6175.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 178px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/SwMrUk6PsAI/AAAAAAAAA-g/tWAduQiD4zg/s400/DSCF6175.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5405211610280079362" border="0" /></a><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Por muito que se fale do amor e se escreva acerca dele até que as palavras se incendeiem e nos transportem para lá do habitual e do quotidiano, parece que se esquece que aquilo que, justa ou injustamente, chamamos quotidiano, o viver da proximidade e da tangência, resulta da forma como amamos ou não amamos. E é verdade que a moral pode ajudar a cercear as divagações, os desvios do comum e do sabido. Mas se acolhemos o imprevisível no âmago do que vivenciamos, as fronteiras e as estradas são estilhaços, o cenário duma fantasmagoria que abandonamos de livre vontade.</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Hoje, por ser feriado, não pude ir à prisão dar a minha aula das Segundas-feiras. Nem sei se estas reflexões são partilháveis ou se a partilha delas será uma profanação, mas haverá sempre um leitor com coração e por enquanto a partilha parece-me importante. </span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Hoje, neste dia invernoso, o impacto do início do dia de trabalho teria sido, certamente, muito intenso. Lembro-me do amanhecer do dia em que dei a segunda aula na prisão, como me impressionou o caminhar abatido dos homens envoltos em bruma da primeira brigada, composta por aqueles que trabalham no complexo prisional. Caminhavam calados, de olhos no chão, acompanhados pelos guardas armados. Parecia que a esperança fora encorraçada daquele espaço penal. O que vale o ser humano? Por muito que queiramos arrumar a patência do si e da vida, vivida na sua concretude constritora, no caixote dos brinquedos inúteis, o que vale um ser humano?</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Depois veio a brigada dos alunos da escola. Ainda havia nevoeiro e senti que tinha que fazer alguma coisa na aula para convocar o sol e a elevação para o centro da aula. Mas era difícil. As primeiras aulas foram um tímido arremedo das aulas a que me tenho habituado. Há olhares tristes que, se não nos agarrarmos com todas as forças à luz que vem de dentro, nos deixam vazios e gélidos, completamente vencidos pela melancolia.</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Mas a Aula, encarada como espaço de liberdade e entrega, foi desabrochando semana a semana. Até se atingir um clímax, duas semanas atrás. Começo sempre com uma pequena divagação e naquela aula, não sei bem porquê, conduzi os alunos para um terreno pantanoso: a reflexão sobre a felicidade. As três horas seguintes foram, talvez, as mais intensas da minha vida...</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >A conversa começou, como é costume com as turmas de adolescentes, cada um foi falando da sua ideia de felicidade, sempre apontando para o futuro como o horizonte de conquista desse objectivo supremo. Eu fui sempre usando da ironia: o que é que os impede de serem felizes hoje? Aqui? Agora? Um aluno apontou para as grades do lado de fora das janelas e eu respondi-lhe que não via grades do lado de dentro. E aí o mais brusco e menos colaborante disparou: “e você, o que é a felicidade para si, não me vai dizer que é feliz...”</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Eu respondi-lhe: “É claro que sou feliz!”</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >- “Então, tem tudo o que quer?”, respondeu rindo em tom de desafio.</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >- “Não tenho nada do que não quero e acho que isso já me ajuda em muito”. Isto fez com que o brutamontes, sempre com um sorriso trocista, dissesse entre dentes: “Já vi tudo, você já está pronto para arrumar as botas, que idade tem?”</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >À minha resposta informou-me que tem menos uma década do que eu, mas que ainda lhe falta fazer muita coisa na vida e que não estava pronto para morrer e nem o estaria quando chegasse à minha idade. Eu disse-lhe que a felicidade talvez não tivesse nada a ver com coisas que se podem fazer, ou não, na vida e que poderíamos ser felizes, alcançássemos, ou não, os nossos objectivos. </span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >- Então diga lá qual é o seu conceito de felicidade...</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >É. Eu não tenho um conceito de felicidade. “Toda a gente tem um, você está para aí a falar, a falar só para gozar com a nossa cara... diga lá qual é o seu conceito de felicidade.”</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Perante a risota geral, mesmo dos rostos mais tristes que me deixaram apreensivo ao longo das aulas anteriores, eu disse: “vocês estão a ser fedorentos sem gato!” e lembrei-lhes a história do camponês em frente da lei do texto de Kafka que deixou meia turma pensativa na aula anterior. Que importa termos muitas coisas ou fazermos muitas coisas, se não acabarmos com a nossa insatisfação? E se, tal como acontece com o camponês que tinha uma porta da lei só para ele, mas só o soube no fim da vida, nós tivermos uma vida toda para nós? De que é que podemos usufruir para além da nossa vida? Por isso a nossa vida parece-nos o que há de mais precioso, porque é que não poderá ser isso a dar sentido às coisas e aos acontecimentos por que passamos?</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >E nisto ouviu-se uma voz que me cortou o fio ao raciocínio:</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >- E se só levámos porrada? O professor já alguma vez comeu sopa com os dentes partidos, com o sabor da sopa e do sangue misturados? Com dez anos?</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Não. É claro que não. Essa é uma experiência sua, João. O João deu sentido a esta interpelação na aula da semana passada quando dei à turma uma tarefa “perigosa”: cada um iria escrever uma carta à pessoa a quem mais odiasse. O João, um menino de trinta e poucos anos, escreveu uma carta ao padrasto. Costuma ser dos últimos a acabar as tarefas, desta vez foi o primeiro: uma folha A4 que me foi entregue por uma mão trémula e naqueles olhos acesos percebi o sofrimento e autenticidade daquela prova. Tem uma infância terrível o João. “Foste tu quem me pôs aqui, correste comigo do amor da minha mãe, fizeste-me mau e agressivo, deste-me tanta porrada...”. “Sabes o que me apetecia fazer contigo? Nem imagines...”. </span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Mas o mais interessante da carta é a frase: “roubaste-me tudo, seu porco, mas não vais roubar-me uma coisa: não me vais impedir de ser feliz.”</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Quando li isto fiquei na dúvida se deveria dar continuidade à actividade. Mas... E, na posse das cartas, informei a turma de que agora cada um deveria colocar-se no lugar do destinatário da carta e responder. Houve muita agitação, um aluno disse-me que eu não sabia o que estava a provocar. O João perguntou-me: “e se essa pessoa já morreu?” Eu respondi-lhe que o ódio tem o condão de ressuscitar qualquer morto, pelo que seria fácil escrever a carta. E o João escreveu. Poucas linhas, algo assim: “não quero que me perdoes, sei que te fiz muito mal, mas deixa-me arder em paz no inferno.”</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Mas, voltemos à aula sobre a felicidade. O que é que se pode responder ao João? Foi aí que peguei numa ficha sobre Etty Hilessum que e eu trazia dentro da minha pasta desde a primeira aula, à espera dum momento propício. O João começou a ler os textos. A minha colega das aulas de 5ª-feira passara o filme “A vida é bela” e o João estudou o fascismo, tendo ficado muito impressionado com o anti-semitismo. As palavras de Etty comoveram-no. E, contrariamente ao que é costume, quis ler os textos em voz alta.</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p> </o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" ><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >"Acredito verdadeiramente que é possível criar, mesmo sem jamais ter escrito uma palavra ou pintado um quadro, apenas moldando a nossa vida interior. E isso também é uma proeza." <b>|Etty Hillesum</b></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><br /><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p> </o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >O João é uma obra de arte... Enoja-me a imbecilidade, a tendência para discriminar, para distinguir e julgar os homens. Não há homens superiores, apenas a superioridade de ser homem, ou cão, ou formiga, não estou a ser antropolátrico, se manifesta de formas muito estranhas, por vezes quase invisíveis. Cada vida é um alvor incontível. E nada de lançar cinzentismos ou qualquer forma de cloro conceptual sobre a mirífica paleta que se abre aos olhos do coração quando queremos ver o que há. Se queremos ver, vemos. Não é João?</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Ora, tudo isto desemboca no amor. Só quem ama se liberta da necessidade de vir a ser isto ou aquilo. A criatividade mais pura...</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >E isto já tinha ecoado nas quatro paredes daquela sala com grades por fora, logo na primeira aula. Duma forma quase descabida disse aos alunos que todos éramos capazes de fazer milagres, de criarmos amando, de sermos para lá do feito e do consumado. E quando perguntei se alguém ali já tinha feito um milagre, um vozeirão respondeu no fundo da sala:</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >- Eu já, a minha filha!</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Eu respondi-lhe que não lhe devia ter custado nada fazer esse milagre, o que arrancou a seguinte tirada do colega do lado do dono do vozeirão que provocou o riso geral: “custou-lhe uma dor de costas!”</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p> </o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" ><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" ><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >"Sei do grande sofrimento humano que se vai acumulando, sei das perseguições e da opressão… Sei de tudo isso e continuo a enfrentar cada pedaço de realidade que se me impõe. E num momento inesperado, abandonada a mim própria — encontro-me de repente encostada ao peito nu da Vida e os braços dela são muito macios e envolvem-me, e nem sequer consigo descrever o bater do seu coração: tão fiel como se nunca mais findasse…" <b>|Etty Hillesum</b></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><br /><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p> </o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >A aceitação! Só vive mesmo quem aceita a vida. Só tem mérito quem se merece e só se merece quem aceita, incondicionamente, a si próprio e aos outros. A aceitação! Esta palavra, como eu esperava, incendiou a aula. Mas duma forma que eu não imaginara.</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >O joão continuava a ler as palavras de Etty:</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p> </o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >“</span><span style=";font-family:";font-size:12;" >Nova certeza: que querem o nosso extermínio. Também isso eu aceito. Sei-o agora. Não vou incomodar outros com os meus medos, não vou ficar amargurada se outras pessoas não entenderem do que se trata, para nós, judeus. Esta certeza não vai ser corroída ou invalidada pela outra. Trabalho e vivo com a mesma convicção e acho a vida prenhe de sentido, cheia de sentido apesar de tudo, embora já não me atreva a dizer uma coisa dessas em grupo. O viver e o morrer, o sofrimento e a alegria, as bolhas nos meus pés gastos e o jasmim atrás do quintal, as perseguições, as incontáveis violências gratuitas, tudo e tudo em mim é como se fosse uma forte unidade, e eu aceito tudo como uma unidade e começo a entender cada vez melhor, espontaneamente para mim, sem que ainda o consiga explicar a alguém, como é que as coisas são.” <b>|Etty Hillesum</b></span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p> </o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >A leitura deste excerto do <i>Diário</i> provocou uma reacção muito enérgica dos alunos de origem africana: “aceitação?! Temos que aceitar o racismo?!”. Tinham ficado chocados com uma reportagem dum telejornal sobre o racismo. Perguntaram-me se se poderia aceitar a acção do branco que tinha agredido um menino negro que ocupava um baloiço para que o seu filho pudesse andar no baloiço. Ao reagir a mãe do menino fora também agredida. A revolta dos meus alunos explodiu ali bem à minha frente. O que tem esta terra de especial para a considerarmos razão suficiente para a discriminação? Nascer aqui, ou além, qual a diferença? E tudo jorrou cá para fora: o racismo inerente ao sistema prisional (na perspectiva dos condenados), a discriminação que existe mesmo na escola primária: o Duarte diz que se alguém lhe tivesse dado a mão na escola não teria ido parar à prisão com 16 anos. Era preto, era natural ser bandido. Toda a gente achou natural e inevitável. A prisão é só para alguns.</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >A revolta dos meus alunos, que já não conseguiam sequer estar sentados enquanto desabafavam, levava a que me bombardeassem com a pergunta: “acha bem?!” Eu apenas respondia: “vocês acha bem? Então porque é que eu haveria de achar bem?”</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >A dada altura o aluno mais revoltado deu-se conta de que eu ainda não os tinha “mandado” calar. Eu perguntei-lhe porque é que ele dizia isso e respondeu-me: “É o que toda a gente faz connosco, mas já estamos há mais de uma hora a falar.”</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >- E professor, eu cresci nas barracas, fui atirado para um bairro social longe de tudo, fui apontado a dedo, maltratado...</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >E eu:</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >- De onde onde julgam que eu venho?</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >E contei-lhes as minhas origens e de que elas não me impedem de ver que todos os homens são dignos da mais alta consideração e que ninguém é mais ou menos do que ninguém...</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >- Então o professor compreende-nos! - E vi duas lágrimas a correr naquela cara exaltada e dura. - Agora sei porque é que o professor nos olha nos olhos e está aqui connosco...</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >E alguém lembrou as minhas primeiras palavras, na primeira aula. Esse alguém acabou por confessar que na primeira aula ficou com a convicção de que eu era maluco. </span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Essas primeiras palavras foram: os muros da prisão têm dois lados, vocês estão presos deste lado, as outras pessoas estão presas do outro lado. A grande diferença entre “cá dentro” e “lá fora” é que lá fora há muito mais criminosos do que cá dentro. As pessoas lá de fora julgam-se diferentes e melhores do que vós, essa é a sua prisão. O que eu gostava era que vocês se libertassem da prisão de cá de dentro e lá de fora.</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Quando saírem e se sentirem discriminados, encarem isso como o resultado da prisão lá de fora. Muitas pessoas querem-se sentir melhores do que os outros, apontam o dedo aos que “falharam”. A melhor reacção que podemos ter perante os outros não é o moralismo, mas a aproximação. E isso começa com os que nos são próximos: todos precisam de ser amados, se um amigo não se mostrar conforme aos nossos padrões morais o que merece mais respeito e amor é o nosso amigo e não os nossos padrões morais, quem sabe se o seu abismo não está apenas no distanciamento que colocamos entre nós e ele? Quem pode cair no abismo do amor e magoar-se?</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >Da minha parte... nunca o servilismo ou a subserviência. Nem a dúvida sobre se vale a pena amar, mesmo que o deserto esconda a visão das flores.</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >E sobre o racismo, enfim, disse que estava muito triste porque os porcos dos racistas estavam a ganhar. Eram mesmo melhores do que os meus alunos, porque conseguiram vencê-los e tomar conta do seu coração e envenenar cada um dos seus dias. O toque impediu mais desenvolvimentos, mas o futuro promete.</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >A minha vida já mudou por causa disto. Que mais se seguirá?</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><div style="text-align: justify;"> </div><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; line-height: normal; text-align: justify;"><span style=";font-family:";font-size:12;" >1 de Dezembro de 2008</span><span style=";font-family:";font-size:12;" ><o:p></o:p></span></p><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> <w:lidthemeother>PT</w:LidThemeOther> <w:lidthemeasian>X-NONE</w:LidThemeAsian> <w:lidthemecomplexscript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> <w:splitpgbreakandparamark/> <w:dontvertaligncellwithsp/> <w:dontbreakconstrainedforcedtables/> <w:dontvertalignintxbx/> <w:word11kerningpairs/> <w:cachedcolbalance/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> <m:mathpr> <m:mathfont val="Cambria Math"> <m:brkbin val="before"> <m:brkbinsub val="--"> <m:smallfrac val="off"> <m:dispdef/> <m:lmargin val="0"> <m:rmargin val="0"> <m:defjc val="centerGroup"> <m:wrapindent val="1440"> <m:intlim val="subSup"> <m:narylim val="undOvr"> </m:mathPr></w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" defunhidewhenused="true" defsemihidden="true" defqformat="false" defpriority="99" latentstylecount="267"> <w:lsdexception locked="false" priority="0" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Normal"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="heading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="9" qformat="true" name="heading 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 7"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 8"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" name="toc 9"> <w:lsdexception locked="false" priority="35" qformat="true" name="caption"> <w:lsdexception locked="false" priority="10" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" name="Default Paragraph Font"> <w:lsdexception locked="false" priority="11" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtitle"> <w:lsdexception locked="false" priority="22" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Strong"> <w:lsdexception locked="false" priority="20" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="59" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Table Grid"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Placeholder Text"> <w:lsdexception locked="false" priority="1" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="No Spacing"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" unhidewhenused="false" name="Revision"> <w:lsdexception locked="false" priority="34" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="List Paragraph"> <w:lsdexception locked="false" priority="29" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="30" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Quote"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 1"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 2"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 3"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 4"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 5"> <w:lsdexception locked="false" priority="60" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="61" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="62" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Light Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="63" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="64" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Shading 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="65" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="66" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium List 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="67" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 1 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="68" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 2 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="69" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Medium Grid 3 Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="70" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Dark List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="71" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Shading Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="72" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful List Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="73" semihidden="false" unhidewhenused="false" name="Colorful Grid Accent 6"> <w:lsdexception locked="false" priority="19" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="21" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Emphasis"> <w:lsdexception locked="false" priority="31" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Subtle Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="32" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Intense Reference"> <w:lsdexception locked="false" priority="33" semihidden="false" unhidewhenused="false" qformat="true" name="Book Title"> <w:lsdexception locked="false" priority="37" name="Bibliography"> <w:lsdexception locked="false" priority="39" qformat="true" name="TOC Heading"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Font Definitions */ @font-face {font-family:"Cambria Math"; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:roman; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1107304683 0 0 159 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-1610611985 1073750139 0 0 159 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:10.0pt; margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} .MsoPapDefault {mso-style-type:export-only; margin-bottom:10.0pt; line-height:115%;} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri","sans-serif"; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-theme-font:minor-fareast; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin;} </style> <![endif]--><span style="line-height: 115%;font-family:";font-size:12;" ><a href="http://www.paulofeitais.blogspot.com/"><span style="color:blue;">www.paulofeitais.blogspot.com</span></a><br /></span><span style="line-height: 115%;font-family:";font-size:15;" ><br /><!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br /><!--[endif]--></span>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-34374481128065990042009-11-01T20:24:00.001+00:002009-11-01T20:25:34.332+00:00O Colégio Militar – uma polémica sem sentido<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/Su3rPo1Hm4I/AAAAAAAAA8Q/0KVbDM0AIgM/s1600-h/Num_19_Militarismo.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 253px; height: 300px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/Su3rPo1Hm4I/AAAAAAAAA8Q/0KVbDM0AIgM/s400/Num_19_Militarismo.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5399230182177872770" /></a><br /><br />___<br /><br />Só há relativamente pouco tempo o mundo acordou para o flagelo das crianças-soldado. Um pouco por toda a parte em que a insanidade campeia sob a forma da mais inane barbárie, crianças de tenra idade são arrancadas ao seio das suas famílias para serem usadas como soldados. A geografia da abominação é difícil de circunscrever, mas as mentes que cultivam a sanidade não terão dificuldade em apreender-lhe os contornos e a reconhecer-lhe mesmo os traços mais sujeitos à erosão, posto que o esquecimento de que o sentido da História deve advir do respeito pela dignidade humana, em todas as suas instâncias, é o principal agente responsável pela desumanidade em que vivemos neste mundo globalizado e sujeito ao império da indiferença e da estupidez, outro nome para a economia sem valores humanos nem valia espiritual.<br />Em qualquer Burundi que se preze colocar crianças de 10 anos num colégio interno gerido de acordo com as normas militares, pode ser visto como um exemplo de boa pedagogia, ou de ‘ensino de excelência’. Mas não num país que queira estar à altura duma missão histórica (vamos, por momentos fechar os olhos, fazer muita força e tentar dar sentido a isso sem termos que arcar com despesas de lavandaria) ligada à fraternidade e à expansão da Cultura emancipadora, tal comportamento cavernícula só pode ser objecto do mais intenso repúdio.<br />As instituições pretéritas devem merecer o nosso respeito. E esse respeito deve consubstanciar-se na busca de formas cada vez mais humanas de construção de sociedade. É preciso não esquecer que a sociedade é uma criação colectiva, a principal criação cultural, na qual devem ser envolvidos todos os indivíduos, num esforço para diminuir a exclusão e a marginalidade. E esse esforço deve centrar-se, acima de tudo, na educação. E não devemos esquecer que a par da marginalidade dos ‘miseráveis’, dos deserdados, há a marginalidade dos privilegiados, dos ‘herdeiros’, daqueles que cultuam uma falsa aristocracia assente no ter e no poder do dinheiro. <br />E num Estado como o português que tutela um sistema educativo submetido aos seus imperativos constitucionais, a Escola Pública deve ser considerada uma instituição de excelência e a sua estruturação deve ser paradigmática no que se refere ao funcionamento das instituições de ensino, de acordo com os valores fundamentais da civilização (ou seja, da emancipação do humano face a qualquer tipo de tirania ou usurpação) e, também, com os princípios da mais válida pedagogia – e aqui é preciso não esquecer a investigação que se faz nessa área e que mostra à saciedade que modelos de organização escolar como o do Colégio Militar (para não falar das outras escolinhas de militares de palmo-e-meio, nenhuma delas inofensiva) contrariam tudo o que contribui para um desenvolvimento equilibrado e humanamente integrado da Pessoa.<br />Uma instituição pública de ensino, ainda por cima tutelada por dois ministérios, mesmo que cobre os encarregados de educação, mensalidades astronómicas para a bolsa do comum dos cidadãos, não pode funcionar de acordo com os princípios que presidem ao funcionamento do Colégio Militar. A haver colégios de excelência, numa sociedade democrática e civilizada deveria ser para contribuir para a igualdade de oportunidades e a promoção da justiça social.<br />Uma instituição destas deveria ser privada. Penso que qualquer grupo social pode criar instituições de ensino e lembro aqui as ordens religiosas que mantêm colégios de elite que perpetuam as desigualdades, mesmo quando o seu ideário as deveria colocar em linha com os pobres e a luta contra a pobreza. Desde que cumpram a Constituição e a legislação do Estado português, são livres de o fazer. Cabe ao Estado contrabalançar este desequilíbrio, fazendo uma redistribuição da riqueza virada para a promoção da Pessoa desde a mais tenra infância.<br />Quem quiser criar os seus filhos num colégio ‘disciplinador’ que o faça, mas em instituições sem capitais públicos. E a matriz militar deve ser própria da instituição militar, pelo que qualquer instituição de ensino, pública ou privada, destinada a menores deve estar fora dessa matriz – o militarismo não é próprio para crianças e adolescentes. Esse aleijão axiológico deve até ser progressivamente extirpado da nossa sociedade e essa deveria, também, ser uma meta a abraçar pelo mundo e, também, pelo mundo lusófono – a extinção dos exércitos, a promoção duma civilização da Paz. <br />Pode ser impossível alcançá-lo no quadro da geopolítica, mas dentro da Escola esse deve ser o horizonte. A Escola deve ser o Império do Espírito Santo – ou seja, a liberdade criadora, capaz de abraçar o mundo com uma onda de pureza. Mas, infelizmente o Mestre Agostinho só serve para foguetórios e para fomento, em muitos casos, da egolatria. Há que pensá-lo a fundo. Mas isso será, para nós, uma Perdição. Quem aceita fazer-se ao mar?<br />Um ensino demasiado centrado nas competências cognitivas, sem um enquadramento sócio-emocional das crianças e dos adolescentes (a família é o principal agente de socialização e a instituição social mais apropriada ao fomento do crescimento sadio das crianças – veja-se, a este propósito as investigações de Harlow, e de outros psicólogos e pedagogos, que demonstram que até os primatas não humanos carecem de afecto para o seu desenvolvimento), não é adequado.<br />O ser humano necessita de afecto para crescer e viver à altura da sua vocação suprema: o ser humano entre humanos. A educação do futuro deve assentar na compaixão e na busca de sentido. Não na sujeição cega à autoridade e à criação de uma auto-imagem junto das crianças e adolescentes assente num conjunto de coordenadas de discriminação e de rejeição da dignidade de cada um dos seres humanos. <br />A sociedade não é uma caserna. E o amor maternal, paternal e filial são um cimento que nenhum sucedâneo pode substituir, nem um ‘graduado’ que dá o comprimido à noite com a mesma dedicação com que dá a lambada ou o castigo. Os pais é que devem estar à cabeceira dos filhos. E as mães.Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-64644970266568936762008-09-20T06:01:00.000+01:002008-09-20T06:02:23.514+01:00A Metafísica do Amor<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/SNR_ScVja-I/AAAAAAAAATE/uecLqdqmID8/s1600-h/B+%287%29-1.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="http://3.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/SNR_ScVja-I/AAAAAAAAATE/uecLqdqmID8/s320/B+%287%29-1.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5247959420614437858" border="0" /></a><br /><h3 style="color: rgb(102, 0, 0);" class="western"><span style="font-family:Arial,sans-serif;"><span style="font-size:85%;"><a href="http://maosvazias.blogspot.com/2008/09/acabou-o-meu-vero.html">O fim. O inicio.</a> </span></span> </h3> <p style="margin-bottom: 0cm; color: rgb(102, 0, 0);" align="justify"><span style="font-family:Arial,sans-serif;"><span style="font-size:85%;"><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Acabou o meu verão. Acabaram as férias (de infância). Não por este ano mas para o resto desta vida. Fui há duas semanas a casa da minha avó. Chorei ao abrir a porta da despensa. E comparar o que vi com a imagem que tenho no meu computador. Os tachos continuavam reluzentes, mas faltava vida a tudo. Sentia-se uma aridez, um frio tremendo. Como se com a morte dela tudo aquilo em que ela tocava normalmente se tivesse resignado, deixado estagnar. A embaciar de dor.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Nada diz mais que uma pessoa morreu do que abrir, escancarar os móveis que dantes se abriam, devagarinho, sem fazer barulho e para onde se espreitava com a curiosidade ingénua das crianças. Separar posses. Distribui-las por sacos plásticos. Virar gavetas do avesso. Desmembrar guarda-fatos...</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Sempre senti aquela casa como se fosse parte de mim. Conheço-a de cor. Cada rebordo, cada canto, cada esquina.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Lembro-me daquelas noites quentes de Verão (sim, quando era criança o verão ainda era quente) em que o vento sapateava pela rua do Pedaço acima e se lembrava de entrar pelos postigos da sala. Fazia rodopiar as cortinas que lançavam sombras longas pela casa. Irremediavelmente levantava-me, ia espreitar o silêncio da rua, sorver o calor do vento. E fingia ser tudo entre sala e quarto. Princesa, heroína, meretriz, mártir, feliz, infeliz.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Acordar de manhã com os barulhos do Pedaço. A mota do vizinho. A padeira. Os pregões da peixeira. O barulho da cafeiteira para aquecer o leite a pousar nos bicos do fogão. Aquele fogão pequeno entre o borralho gigante e a chaminé imensa. O cheiro da pomada e spray para os ossos. Aquele cheiro de limpeza absoluta e carinhosa que se lançava de cada superficie. As vizinhas a abrirem o portão, a passarem pelo pátio e a entrarem: "Precisas disto? Vou ali ao mercado e..". "E a menina?" "A menina está a dormir."</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">E a menina já tinha acordado. E voltado a adormecer. E escutava deliciada as conversas da rua.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Sempre me fascinou a vida assim. Toda a gente nos conhecer. Ver-nos crescer. Alternar entre beijinho na bochecha e festinhas no cabelo. A amizade. O companheirismo. Se uma vizinha estava doente, as outras faziam fila à porta dela para se oferecerem para toda e qualquer tarefa. Sempre me fascinou a troca de pratos de arroz doce em dias assinalados. A broa de abóbora.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">As tuas amigas, colegas de carteira e de porta fazem parte do meu imaginário de infância também. A senhora Maria Pinta e a sua casa sempre branca com debruns verde forte. A Rosa Rebola e os suspiros, sequilhos e fusis. A Gilda, com o rádio eternamente ligado. A senhora Leonilde e o senhor Joaquim, que sempre me pareceram, desde pequena, um casal de gnomos bondosos. E tantos, tantos outros.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Lembras-te daquele senhor capitão baixinho, que andava sempre de boina e tinha uns olhos mais azuis do que quaisquer que vi até agora? Como ele fingia que me vinha fazer cócegas quando eu estava ao portão para eu correr para dentro a gritar e a rir ao mesmo tempo? Não me recorda o nome dele...como era, vó?</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Nunca soubeste que eu tinha um fraquinho pelo Nélson. Esse da casa em frente. Que o ouvia virar para a rua, à noite, à distância, e me ia pespegar ao postigo para não perder um instante. O barulho da chave na porta. O ranger da porta no soalho. O arrastar. clac clac. A luz do quarto que se filtrava pela persiana permanentemente (mal) fechada. Esperava mais 5 minutos até a calma regressar. Às vezes sentava-me ainda por breves momentos, a apreciar o silêncio. Só quebrado pelo relógio da cozinha (que se ouvia em toda a casa) que agora marca incessantemente as horas aqui ao meu lado.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Lembro-me dos cheiros todos. Do refogado que atravessava o pátio e vinha ao meu encontro mal abria o portão vinda de qualquer recado. Da sopa de feijão inchado. Do arroz doce. Da pá do leite creme a queimar o açúcar e a canela. Do Omo que gostavas de usar para lavar a louça, até a minha mãe te convencer do virtuosismo do SuperPop Limão. Do louro pendurado no fio do pátio. Do café levezinho da tarde. Dos cachorros que fazias com pão, manteiga quente e salsicha.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Cheirava tudo...cheirava tudo a amor. A emoção.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Já te disse que tudo ganhava vida nas tuas mãos? Não só as panelas que tanto areavas. Tudo. A renda. A roupa presa a secar. Tudo...Até as andorinhas voltavam todos os anos para o teu pátio não para te chatearem, mas porque gostavam de ti. Nunca te disse esta, pois não avó?</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Senti, naquela tarde de segunda-feira, que se me acabava o verão. Não há mais rádio da Gilda, o Nélson (casado e com filhos) há anos que já não mora ali, longe vão os suspiros e cada vez mais raros são os pratos de arroz doce. As faixas verdes da casa da senhora Maria desbotaram. Está para venda. O senhor capitão....ainda eu era pequena e ele já tinha morrido. Não morrem os olhos azuis na minha memória.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Já não há histórias de antigamente. Já não ouço as anedotas do teu café. Quem é que tinhas atado ao pé da mesa ao certo? :) Já não ouço as vizinhas a perguntarem se precisas de algo nem o toque da padeira. Já não vou aparar o pão há séculos. A minha mãe tem alguns dos sacos de pão lá em casa. Aqui soa o relógio, vela a tua mantinha e estendem-se as passadeiras.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">O meu verão morreu. Já te tinha dito? Não importa que não o passasse aí em casa nos últimos anos. Não interessa que, ultimamente, nem tu lá estivesses. O meu verão, a minha infância, era, e sempre foi, aquela casa, os sons, os cheiros, os sabores, e tu.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Morreste avó...mas juro que te vi sorrir na foto em que preguei os olhos a caminho do cemitério. Eu e as minhas primas com as chaves na mão. Não queria ir, sabes...</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Quando me despedi de ti apertei-te a mão e ela estava quentinha e macia. Como sempre. Desde que sou gente lembro-me sempre de ti assim, vó.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Nunca te cheguei a dizer que te amava pois não? Nunca o ouviste? Mas sabia-lo.</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Nem acredito que o meu verão acabou (assim)...</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Brida, </span><a style="color: rgb(0, 204, 204);" href="http://www.maosvazias.blogspot.com/">http://www.maosvazias.blogspot.com/</a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">_____________</span></span></span></p> <p style="margin-bottom: 0cm; color: rgb(255, 255, 255);"><span style="font-family:Arial,sans-serif;"><span style="font-size:85%;">Chega um momento da nossa vida em que o Verão tem que ser segregado de dentro do nosso coração. É um testemunho que nos é passado por quem teve a Graça de nos instaurar como os destinatários do Verão.<br />Não será por acaso que o nosso ascendente, quase sempre, é o signo solar de um dos nossos avós. O acaso é um dos sortilégios do Verão.<br />E faz parte do assumirmos a nossa herança solar vivermos a partida de quem na nossa vida se repartiu, se deu a comer e a beber, nessa eucaristia dos afectos e das presenças, nessa entrega totalmente grácil.<br />E não encontro palavras para te dizer o quanto partilho da tua dor. Prefiro dizer-te do Amor e de como nunca o perdemos, de como ele nos eleva e nos torna aráveis e fecundos. Aí assoma sempre o futuro, levedado, alvo, irrevogável e sempre resguardado dos nossos medos.<br />Temos, pois, que deixar partir quem parte em direcção à fonte suprema do tempo, lá onde as águas são sempre puras e as almas assumem a verdade da memória e do esquecimento. Deixar partir quem já não é nosso porque nos deixou tudo. E é com esse infinito que temos que alimentar os que nos chegam. Também nós partiremos e só levaremos o que não é nosso, o Amor, essa chama que nos aproxima, por vezes sem sabermos porquê, de seres com uma vibração igual.<br />E vale a pena vivermos a entrega plena ao Amor. Mesmo quando a dor nos parece insuportável. Mesmo quando ficamos rasgados por dentro e deixamos de nos saber. É preferível isso do que acreditarmos na morte ou no medo, ou na vida sem errância e sem entrega.<br />E assim, também, nos desfazemos e nos podemos tornar incompreendidos. Mas essa incompreensão prepara-nos para o Verão. É ela que faz regressar as aves do eterno que navegam os ares na demanda do Sul.<br />E, então, o Amor ilumina-nos por dentro, de dentro, bem de fora de nós e do tempo em que não nos sonhamos. Essa a nossa grandeza. Por isso há encontros que iluminam a nossa vida, mesmo que nos sintamos obscurecidos pela intensidade da luz que nos chama para um novo Verão. É esse que nos consumirá e nos conduzirá à saudade dos que ficarão.<br />Partir não é, então, uma traição, nem ao Amor, nem a nós, nem à vida. É uma precisão que nunca entenderemos. Porque agora não somos isto que, camada, sobre camada, encapsula o Vivo Amor de que somos a expressão, essa luz claríssima que nenhuma gramática enclausura, que nenhum desejo dissipa, que nenhum discurso alcança. Por isso, em verdade, nunca partimos, repartimo-nos mas não nos partimos. E não há distância se aprendermos a recolher-nos no Amor.<br />Por isso Agostinho da Silva tem razão quando diz que amar é fazermo-nos ao mar. E fazermo-nos ao mar é tornarmo-nos embarcadiços. E isso é sonharmos com a Ilha, mesmo que não saibamos como aportar nela. É que os encontros decisivos não podem ser forçados e o maior dom que podemos conceder aos que amamos é a soltura. Só isso os poderá resgatar do medo e da morte. Mas devemos viver isto sem desistência. Sempre sem desistência.<br />Como a brisa da manhã, logo extinta mal damos conta dela, assim também o hálito dos que nos afagam se extingue, marca da suprema entrega, sinal do que em nós nos sagra mais do que a vida.<br />Que o Amor se cumpra então, hoje e sempre, nas nossas vidas, marcadas pela brevidade e pela festa de nos sabermos unidos por um mesmo fogo, inextinguível, total, absoluto e absolutivo.</span></span></p>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-46772145402840275592008-09-14T11:35:00.003+01:002008-09-14T11:40:18.966+01:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/SMzpW9CE3pI/AAAAAAAAARs/u8pmzszQfZM/s1600-h/andorinha.s.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="http://2.bp.blogspot.com/_-LZhiM7RhW0/SMzpW9CE3pI/AAAAAAAAARs/u8pmzszQfZM/s400/andorinha.s.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5245824246529449618" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);font-size:100%;" >Vou Ser Senhor do Mundo<br /><br /></span><pre style="color: rgb(0, 204, 204);"><h4><span style="font-size:100%;">Vou falar com o Pássaro-Rei,<br />vou-lhe pedir um favorzinho:<br />vou ver se ele me dá emprestado<br />sete penas brancas<br />para eu voar<br />e ir poisar no tecto do mundo.<br /><br />Se ele disser que sim,<br />estou garantido,<br />porque Capotona-Preta prometeu virar-me<br />dum passo para o outro,<br /> em senhor da terra,<br /> senhor das águas,<br /> senhor dos céus,<br /> senhor do Mundo.<br /><br />Mas é se eu voar<br />com as sete penas brancas<br />e for poisar no tecto do Mundo.<br /><br />E porquê ele não me faz o favorzinho,<br />se lhe levo um punhado de milho<br />e se lhe digo: — Por favor?<br /></span></h4></pre><span style="color: rgb(102, 0, 0);font-size:100%;" ><span style="color: rgb(0, 204, 204);">Jorge Pedro Barbosa</span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 153);">____________________</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="color: rgb(255, 255, 255);">É importante, quando formos falar com o Pássaro-Rei , que saibamos pedir, e pedir "por favor".</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">É uma lição interessante, posto que pedir não deve implicar servilismo. Se pedimos usando o outro como um mero dispositivo de satisfação, ou de gratificação, para além de estarmos a investir nisso uma parte importante das energias que nos são necessárias para sermos em verdade, estamos a recusarmo-nos à sua humanidade. O que é algo que não devemos, sob circunstância alguma, fazer com o Pássaro-Rei.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">O milho torna-se grácil quando dizemos "por favor". Não se trata de um suborno ou de um pagamento. A instância que move a resposta ao nosso pedido não será essa.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">O segredo está no pedir, no sermos capazes de pedir. Porque há formas de pedir que nos impedem de sermos em verdade. Porque todos nascemos com uma irrevogável soberania sobre o mundo: a de no mundo sermos nós próprios. E neste sentido, todas as outras formas de soberania são uma espécie de simulacro de Pássaro-Rei. Porque o autêntico Pássaro-Rei é o que em nós nos eleva. Trata-se, portanto, de uma realeza que nos pode fugir se a assustarmos.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Daí a importância do milho.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Todas as formas de servilismo são degradantes. Daqui se depreende a importância do Serviço. E serve quem não </span><span style="font-style: italic; color: rgb(255, 255, 255);">se</span><span style="color: rgb(255, 255, 255);"> serve, posto que quem </span><span style="font-style: italic; color: rgb(255, 255, 255);">se</span><span style="color: rgb(255, 255, 255);"> serve é servo. O Serviço é, pois, a prática por excelência da insubmissão. Não nos submetermos significa que não aceitamos qualquer forma de degradação daquilo que somos e daquilo que os outros são. O que está bem patente na seguinte quadra de Agostinho da Silva:</span><br /><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">“A quem jamais me dá ordens</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">faço o que não apeteço</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">mas sou contra se alguém manda</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">pois sirvo, não obedeço.”</span><br /><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Muito se poderia falar da liderança pelo exemplo. Os autênticos líderes são os que fazem primeiro, os que se fazem ao camin</span></span></span><span style="color: rgb(102, 0, 0);font-size:100%;" ><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ho, e o fazem a partir da sua necessidade de caminhar. Assim há líderes que não sobem aos palanques, nem se assumem sob os holofotes mediáticos. Estes últimos são servos e servis. Servem, primeiro a sua ambição, servem, depois e sempre, as vontades alheias.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">E como vivemos numa sociedade movida pela crença de que tudo se compra, esquecemo-nos que só se pode comprar o que é posto à venda. Ora, há coisas que não se vendem, ou por não haver quem se queira assumir como seu vendedor, ou por não serem vendáveis, não sendo, por isso, compráveis. Mais uma quadra agostiniana:</span><br /><br /></span></span></span><span style="color: rgb(0, 204, 204);">"Para tantos existir</span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">é uma queixa pegada </span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">terem de ganhar a vida </span><br /><span style="color: rgb(0, 204, 204);">quando afinal lhes foi dada."</span><br /><span style="color: rgb(102, 0, 0);font-size:100%;" ><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="color: rgb(102, 0, 0);"></span><br /><span style="color: rgb(0, 0, 0);"><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Uma das coisas mais tristes a que podemos assistir é o clima de competitividade que se vive por todo o lado e, de forma muito percuciente, na escola. Estamos a educar bestas. Em vez de levarmos a que cada um dos alunos se descubra e se assuma como o seu mais importante projecto, o que o levaria a encontrar-se verdadeiramente com os outros, nos outros e na sua liberdade grácil, fomentamos o medo de falhar e a insatisfação, a inveja e a auto-punição. O medo de existir instaura a vida como uma guerra em que só os que forem mais "aptos" têm o direito de sobreviver.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Mas nós não nascemos para sobreviver, mas para viver. Ninguém deve querer ultrapassar a sua vida, deixando de viver. Se bem que exista algo em nós que não é nós nem é nosso, mas isso só será assumido se formos vivos. E enquanto somos vivos somos Pássaros-Rei. E sempre que estivermos coligados ao nosso coração, estaremos no tecto do mundo.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Há tempos, meio a brincar, disse a um colega que o mais profundo tratado de pedagogia jamais escrito, é a </span><span style="font-style: italic; color: rgb(255, 255, 255);">Arte da Guerra</span><span style="color: rgb(255, 255, 255);"> do Maquiavel. E o homem, para meu espanto, leu a obra e veio concordar comigo. Eu ouvi-o com atenção, meio a brincar. Mas há brincadeiras que têm resultados funestos. Mas no fundo quase todos os tratados de pedagogia, mesmo os das assim chamadas ciências da educação, são variantes, mais ou menos refinadas, mais ou menos seráficas, da </span><span style="font-style: italic; color: rgb(255, 255, 255);">Arte da Guerra</span><span style="color: rgb(255, 255, 255);">. Não foram os génios do pentágono que inventaram a guerra "limpa", sem danos colaterais e sem a morte de soldados "amigos". É claro que neste caso isso se trata de uma utopia propagandística. Os verdadeiros inventores da coisa são as cabeças pensantes da pedagogia. Castiga-se sem castigar, ensina-se sem ensinar, mata-se sem matar, vive-se sem viver. E quando os mortos-vivos saem da escola, atiram-se sobre o que mexe para satisfazerem a sua egolatria. E a coisa pega-se.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Estamos, então, muito longe daquela máxima de S. Agostinho,</span> <span style="color: rgb(0, 204, 204);">"ama e faz o que quiseres"</span>. <span style="color: rgb(255, 255, 255);">É claro que não é necessário ir tão longe para dar milho ao Pássaro-Rei. Todo o milho é do Pássaro-Rei, por isso ninguém lhe dará nada ao dar-lhe milho.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">O problema é ele descobrir como abrir a gaiola.</span></span></span></span>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-79300729905503394022008-09-09T15:30:00.001+01:002008-09-09T15:30:31.875+01:00<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/qGCL-CK_yDc&color1=0x234900&color2=0x4e9e00&hl=en&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/qGCL-CK_yDc&color1=0x234900&color2=0x4e9e00&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-73663089695870061012008-09-04T12:35:00.004+01:002008-09-04T12:53:44.695+01:00É possível uma via compassiva em política?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=00171601329901"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px;" src="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=00171601329901" alt="" border="0" /></a> <p style="margin-bottom: 0cm;">Em primeiro lugar, há que precisar o que se deve entender por 'via compassiva'. E considero que só há uma forma de entender este conceito: trata-se de colocar a compaixão (conceito que não carece aqui de definição) no centro de toda a acção, de toda a reflexão, no fundo, considerá-la a base da nossa compreensão do mundo e da nossa relação com os outros.<br />Neste sentido, a ética será colocada no centro de toda a intencionalidade, quer esta esteja dirigida para o agente, quer o esteja para os outros. Trata-se duma ética e não duma moral, pois o que está aqui em causa é uma atitude perante a vida e não um sistema de normas assente numa constelação de crenças instauradoras de separatividade.<br />Trata-se, então, duma ética da aceitação, paradoxalmente, ou não, assente na rejeição do conceito moderno de tolerância (como bem viu o Mestre Agostinho). Nós não temos que tolerar os outros, mas temos que aceitar a sua irredutível diferença, o carácter supremo da sua existência.<br />Mas a aceitação não deverá ser uma adesão cega, uma vez que a ética da aceitação só poderá afirma-se em ruptura com o relativismo axiológico que se tornou um <i>a priori</i> das sociedades ocidentais, ou de matriz ocidental, e que tem como pólo de co-legitimação o monolitismo e o fanatismo que alimentam todas as formas de intolerância cega mobilizadora das massas.<br />Neste sentido, há que desenvolver uma prática da intolerância: é intolerável que se morra de fome; é intolerável que qualquer ser humano seja tratado como inferior, seja em que contexto for; é intolerável que o obscurantismo, sejam quais forem as suas formas, seja assumido como fonte de verdade; é intolerável que em nome de princípios de carácter político, filosófico, religioso, ideológico, se vilipendiem seres humanos; é intolerável a crueldade para com os animais, etc., etc..<br />Então, uma via compassiva em política por si só seria bastante “revolucionária”, porque, primeiro, levaria a uma transformação, desde o interior, dos agentes da mudança. Seria aí, nesse campo muitas vezes negligenciado, que se travariam as batalhas mais titânicas: em vez de procurar na negatividade dos outros razões para os conflitos e para os fracassos (mas às vezes ela também nos concede vitórias), procurar-se-ia as bases da concórdia, uma vez que a autêntica concórdia não anula as diferenças entre pontos de vista, nem a radical alteridade dos outros.<br />Essas bases estão no coração. O problema é que poucas pessoas acreditam que possa existir no centro do seu peito algo mais do que uma bomba para fazer circular o sangue e, muitas vezes, para detonar a incompreensão, fonte de quase todos os derramamentos de sangue.<br />Mas há algo para além disso. Há a possibilidade de iluminar a realidade com uma luz que não cega nem inquina a visão. E é à luz dessa luz que se pode ver a autenticidade, a nossa e a dos outros.<br />E a concórdia (que não devemos confundir com concordância), colocada no centro do viver humano, levaria à rejeição de todos os dispositivos geradores, ou veiculadores, de discriminação e de agressão. E todas as tomadas de decisão assentariam no princípio, eticamente intocável, da não-violência.<br />Sendo assim, a concórdia colocada como base de entendimento, faria com que a autenticidade da lusofonia se tornasse uma evidência e uma prática. O pior que pode acontecer será o encastelamento em posições inamovíveis e a construção de muros e a imposição de barreiras. Os que se nos opõem não são nossos inimigos, apenas nos mostram que há um caminho a trilhar, que há um espaço mais vasto do que o que nós assumimos para a nossa afirmação da verdade.<br />E aqui surge a questão dos interesses. Os interesses particulares são legítimos, seja o dos indivíduos, seja o das pessoas colectivas que aceitam o jogo democrático, ou o funcionamento civilizado das sociedades. O único senão é que a prossecução dos interesses particulares, sem uma orientação para o que transcende a particularidade, pode gerar frustração e, com isso, sofrimento e o agudizar da conflitualidade.<br />O campo da política terá que ser assumido como um horizonte onde os interesses particulares possam ser compossíveis com os interesses colectivos, ou mesmo universais, considerados,estes últimos, como superiores e “intocáveis”. Neste sentido a Declaração Universal dos Direitos do Homem aponta uma via, embora essa seja ainda insuficiente.<br />Esses “interesses” universais assentam em vários princípios, de entre os quais gosto de destacar o seguinte: cada ser humano é supremo.<br />Mas não se trata aqui duma antropolatria, mas de um princípio de uso pragmático – é útil partir-se do respeito incondicional pela pessoa humana, seja qual for o seu estatuto social, cultural, político. É útil porque impede que deixemos nascer em nós a aversão e o egotismo fricativo. É útil, também, porque fará diminuir a carga de sofrimento que subrepuja a humanidade neste nosso mundo acabrunhado pelo terror e pelo deserto espiritual.<br />E, assim, antes de julgarmos os outros, devemos reflectir sobre o que é que nos instauraria como juízes dos outros, ou mesmo de nós mesmos, com base em princípios heteronómicos.<br />Mas aquele princípio é solidário com uma série de outros. Por exemplo: todos os seres têm direito ao bem-estar e à felicidade. O que significa que temos o dever de respeitar a vida, em todas as suas formas, e promover a afirmação da vida, ou de deixar que a vida se afirme. O que pode significar que não podemos ser obstáculo à afirmação do que é diferente de nós e, muitas vezes, nos supera, o que que pode ser observado na forma como os seres humanos se relacionam com os problemas ambientais.<br />Não se trata, portanto, de procurar implementar um governo “dos melhores”, uma aristocracia, mas de deixar que o Bem nos governe, que sejamos governados pelo melhor que há em nós. É claro que todos temos, homens e países, fantasmas no armário, todos vivemos a dialéctica da luz e da treva. Mas a treva e a luz não são confundíveis, embora o seu confronto possa ser causa de legítima confusão.<br />E voltando à questão inicial, há que colocá-la no centro da nossa vida: é possível uma via compassiva na nossa vida? Há aí uma via?<br />E o problema não é de somenos: pode haver aí a tentação da passividade ou do contrapolar voluntarismo. O mesmo se passa no campo da política.<br />A paciência pode ser confundida, se vista de fora, com passividade. O desejo de ajudar pode, igualmente, ser confundido com uma forma de idiotia ou de “palermice”. Mas não nos devemos inquietar com a possibilidade de padecermos duma espécie de complexo de Forrest Gump. Porque a autêntica nobreza nasce da compaixão. A que também podemos chamar amor e, se olharmos à Carta aos Coríntios, da autoria de um dos maiores poetas que já se fizeram ao mundo (ou ao mar), isto seguindo a lição de Pascoaes, há formas de amar que são pueris e, neste caso, nem a língua dos anjos, nem a mais alta “sabedoria”, podem substituir o amor adulto, ou seja, levedado, com o qual nos levantamos do chão e através do qual nos unimos à luz do mundo, a verdade, “lusa” que significa, “portadora de luz”. A Luz talvez nunca saibamos de onde vem. Basta que saibamos acolher o que ela ilumina.</p>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-60066550725404560962008-09-01T23:12:00.000+01:002008-09-01T23:13:39.568+01:00<object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/ufn2KtrWEUc&hl=en&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/ufn2KtrWEUc&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-38629277976424471842007-03-20T10:48:00.000+00:002007-03-20T11:31:25.324+00:00Contemplação<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=05104053196040"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px;" src="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=05104053196040" border="0" alt="" /></a><br /><br />não te esqueças<br />que obtiveste esta preciosa vida humana<br />para seres gente<br />que o Sol que há em ti e que te é<br />briha mais que o disco solar que inunda de luz as manhãs dos teus dias<br /><br />não te esqueças<br />que os teus olhos não são teus<br />mas do que através deles se mostra<br />que a luz que por ti passa vem de nenhum lugar<br /><br />não te esqueças<br />que tudo o que vês nunca foi<br />que tudo o que és nunca existiu<br />que tudo o que queres te amarra<br />à ilusão da permanência e da separação<br /><br />____________<br /><br />Quão preciosa é uma vida humana?<br />É impossível dizê-lo por palavras que possam andar à solta fora dos corações que as habitam, que elas habitam, sem haver, com isso, um habitar que recuse a errância, a perdição e a auto-descoberta...<br />A vida humana é um convite do Universo.<br />Não nascemos só porque tem que ser. Há mais coisas envolvidas no nascer. Em primeiro lugar, a nossa libertação de tudo o que nos impeça de querer o que quisermos, humanamente ou não, alcançar.<br />E aí o sofrimento tem um papel decisivo, pois ele é a materialização do que nos impede de acedermos ao tal convite universal. É a materialização da nossa recusa essencial de nos vermos como a luz do mundo, imunda e munda, mundana e secreta, aberta e fechada, rosa e espinho, e oceano e praia batida pelas vagas das tormentas sem razão outra que a sua dança de sal e espuma, luz, bruma e esperança de não encontrar.<br />A partir do momento em que aceitamos ser qualquer coisa, deixamos de ser a criança que o infinito trouxe às teias mágicas da Ilusão. O nascimento é só mais uma cisão e a ruptura do amplexo oceânico que nos trouxe, em corpo de mãe e alma de recusar-se a nascer, como uma promessa que ninguém, nem nós mesmos no mais íntimo, terá que cumprir.<br />Teremos,pois, que passar o resto da vida a unir, para podermos remediar a tragédia cósmica do acto de parir que tanta dor semeia no mundo. Não dá para querermos ser mais do que essa tentativa, sempre aventurosa e perdulária, de não sermos nada para sermos aquele tudo que não é.<br />Se quisermos ser mais do que isso ficamos presos na teia do desejo e da frustração, do medo, da angústia e da permanente escolha do que não podemos ser em verdade.<br />O problema é que a compreendsão disso é um não compreender.<br />Tal como um vidro cristalino e imaculado, o que nos dá a ver a beleza do mundo não SE vê. E depois há os outros, homens animais e os seres dotados de mente, que, também eles, são o infinito a não ser. Quantas vezes nos agarramos à ilusão de que somos mais do que uma formiga, um cão, um gato ou uma pulga. E quando nos cruzamos com os preciosos seres que partilham connosco a humanidade, as teias da ilusão fazem-nos esquecer que a nossa história é a historia do próprio universo que, tal como a ciência vem demonstrando, propriamente não tem história, porque está sempre a recomeçar.<br />Mas falar em outro é permanecer na dualidade, como apelar a um uno que a si mesmo não se negue será criar uma torre de marfim ontológica que acabe por inaugurar uma tradição que tem, no seu termo, umas bombas atómicas e tudo o que de não escatológico tem a bestialidade humana.Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-85468809788863731302007-01-03T18:53:00.000+00:002007-01-03T23:28:56.059+00:00A pena de morte em questão<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://atangledweb.typepad.com/photos/uncategorized/saddamhusseinglares_2.jpg"><img src="http://atangledweb.typepad.com/photos/uncategorized/saddamhusseinglares_2.jpg" border="0" alt="" /></a><br/> <br/><div align="justify"> A recente execução da condenação à morte de Saddam Hussein levanta uma série de problemas éticos, respeitantes à dignidade da pessoa humana e ao que se espera de uma sociedade civilizada.<br/>É certo que Saddam Hussein foi um dos mais sangrentos ditadores da história recente, a par de Pol Pot, Augusto Pinochet e tantos outros que ficaram impunes, como os generais argentinos que nos anos 70 são responsáveis por mais de 30000 mortos. A lista de países que neste preciso momento estão a viver sob regimes ditatoriais, ou totalitários é imensa. Muitos deles contam com o apoio das democracias ocidentais.<br/>O principal problema que se coloca em relação à pena de morte está ligado com a inviolabilidade do direito à vida, consagrado como o primeiro dos Direitos do Homem. Esse direito é absoluto, ou o dever de o respeitar admite excepções?<br/>Por outro lado, matar, em geral, bem como no caso do acto de matar um ser humano, em si, é um acto mau, hediondo, pois trata-se de aniquilar um ser humano, de eliminar uma vida. Mesmo sem recorrer a argumentos de carácter religioso, é fácil de admitir que o acto de matar é terrível, mesmo que seja executado para punir crimes de genocídio, como foi o caso de Saddam Hussein.<br/>E a execução de Saddam Hussein revestiu-se de pormenores no mínimo chocantes:<br/> a) foi filmada e exibida nos meios de comunicação do mundo inteiro;<br/> b) o condenado foi agredido verbalmente por membros da assistência que, para cúmulo, gravaram imagens não oficiais da execução.<br/> c) o processo judicial decorreu de uma forma precipitada e decorriam processos contra Saddam Hussein que ainda estavam longe de estar concluídos, pelo que a sua presença, enquanto responsável máximo por crimes contra a humanidade, era fundamental para que se fizesse justiça, independentemente do desfecho desses processos.<br/>Há anda argumentos de carácter circunstancial que agravam o quadro em que decorreu a execução, embora sejam irrelevantes no que respeita ao problema da pena de morte: o clima da guerra civil que se vive no Iraque aconselhava que Saddam não fosse executado, uma vez que isso pode contribuir para um agravamento da situação; o facto da data da execução ter coincidido com a peregrinação a Meca, uma das festividades mais importantes do mundo islâmico, pode constituir um desrespeito pelas práticas religiosas do mundo árabe, ajudando a extremar ainda mais os fanatismos e a intolerância. Outro argumento que pode ser aduzido contra a execução de Saddam Hussein é o facto da sua execução o poder transformar num mártir da causa sunita.<br/>Estes argumentos são irrelevantes no que respeita à inaceitabilidade da pena de morte, pois se considerarmos a vida um valor supremo, nada poderá tornar aceitável qualquer tipo de acto contrário à vida. Logo, sendo esse o caso, a pena de morte é inaceitável. <br/>Mesmo que a execução de Saddam Hussein pudesse garantir a paz no Iraque, isso não a tornaria aceitável.<br/>Se estamos perante um ditador que foi conduzido ao poder pelas potências ocidentais, principalmente pelos Estados Unidos e se foi mantido no poder enquanto isso satisfez os interesses ocidentais, mesmo sabendo que Saddam usava armas químicas contra o seu próprio povo e era responsável pela tortura e pelo assassínio de milhares de iraquianos, para não falar na guerra com o Irão que dizimou mais de um milhão de vidas, era justo que a sua condenação revestisse a forma de prisão perpétua sem direito a liberdade condicional. E era igualmente justo que os países ocidentais se responsabilizassem, quer em termos económicos, quer em termos logísticos, pelo cumprimento dessa sentença.<br/>É preciso não esquecer que a dignidade da pessoa humana é um valor que não depende de credos religiosos, de origens étnicas ou de quaisquer outras condicionantes. Todos os seres humanos devem ser respeitados na sua condição de pessoa, mesmo os que não respeitam a dignidade das outras pessoas. Não é aceitável a pena de morte, nem a tortura, nem qualquer forma de tratamento indigno para além da privação da liberdade e da imposição das condições de segurança necessárias a que essa privação possa ser efectivada, na sequência de um julgamento justo e imparcial.<br/>Isto porque os seres humanos partilham a mesma condição e são portadores da mesma possibilidade de compreensão e de vivência do infinito, para não ir mais longe.<br/>Cada homem possui uma vida limitada, frágil, sujeita a condições que lhe conferem um carácter supremo. Aceitar a ideia de que há homens que jamais conseguirão ser portadores de bondade ou de uma inteligência compassiva, é admitir que a bondade e a compaixão são apenas algumas das vias que estão abertas à humanidade, o que diminui, fragiliza e ameaça de extinção o ideal de que a paz, a fraternidade e o respeito incondicional pela dignidade da pessoa humana devem ser os grandes objectivos da presença dos homens no mundo. <br/>Isto deixa a porta aberta para a continuação da exploração do homem pelo homem, da discriminação económica, social, racial, religiosa, em nome de valores e de princípios em tudo alheios à promoção da pessoa humana como aquilo que mais vale a pena, a par do respeito pela vida no seu todo, encarada como a alma frutificante do planeta Terra.<br/>Assim, em nome de interesses económicos, muitas vezes escusos e envoltos em práticas criminosas, continuamos a considerar que é normal e aceitável a destruição do meio ambiente, que é normal e aceitável que morram milhares de seres humanos na epopeia dos tempos modernos, ou seja, na viagem tormentosa em busca de uma vida melhor nesta terra da promissão que se está a transformar numa Europa-fortaleza, alheia ao sofrimento da metade sul do planeta, cada vez mais empobrecida e explorada pelo economicismo rapace dos países ricos.<br/>A existência da pena de morte em muitos países do mundo dito “civilizado”, não é a prova de que há algo de irredutivelmente mau na natureza humana e que a humanidade se pode facilmente dividir em boa e má, mas, pelo contrário, é um evidente sintoma da mais grave perversão de que os seres humanos são capazes: o considerarem que parte do dinheiro do mundo, ou todo o dinheiro do mundo, vale mais que a vida, a felicidade e a realização pessoal de qualquer um dos seres humanos.<br/>Falta ainda ver o que se passa no coração (sim, no coração) de todos aqueles que exultam com o espectáculo da morte de Saddam Hussein ou de qualquer outro condenado à morte. Cada uma dessas pessoas é tomada pelo ódio, talvez por razões muito fortes, e recusa-se a aceitar que existam outras vias para além do ódio, outras respostas para além da morte e da mortificação da esperança.<br/><br/><br/><br/><br/><br/></div><style>i{content: normal !important}</style>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-49094668462342369422006-12-31T02:16:00.000+00:002006-12-31T03:07:44.570+00:00Um Novo Ano<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=02998638567129"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px;" src="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=02998638567129" alt="" border="0" /></a><br />O facto de usarmos um calendário, leva a que, pela força do hábito, acabemos por seccionar o tempo em blocos compartimentados que geram a ilusão de regularidade e de continuidade mecânica e objectiva.<br />O mecanicismo, nascido durante o renascimento e amadurecido no século XVIII, levou a que o homem ocidental representasse o universo como um relógio gigantesco, construído e posto a funcionar por um relojoeiro supra-humano, uma mente tecnocrática e completamente desligada das minudências da vida humana.<br />A cadência monocórdica dos mecanismos de relógio acabou por invadir até as mais livres manifestações da alma humana, caracterizada pela criatividade expansiva. A música ocidental é um reflexo disso mesmo, pois a ideia de ritmo que se instalou como natural deriva desse movimento de mecanicização da natureza.<br />Mas o tempo é ritmo. A vida é rítmica.<br />Mas o ritmo não supõe apenas regularidade, incorpora a ideia de mudança. A ênfase na regularidade é uma teimosia da mente humana que não suporta a mudança, uma vez que esta anda, muitas vezes, de mãos dadas com o sofrimento.<br />Não há duas Primaveras iguais. Mas existe um ciclo que faz com que as estações se sucedam, de forma regular, sim. Há uma necessidade a operar na Natureza, mas nada que se assemelhe a um relógio, a uma máquina, ainda que gigantesca e habilmente construída. Na Natureza não há "habilidade", só o homem é hábil, desde tempos primordiais que a inventividade técnica ganhou a dianteira, pois a criatividade pura, quando emerge, é livre de constrangimentos e, demasiadas vezes, vem e parte em silêncio.<br />Cada ser humano tem o seu ritmo, a sua história universal. Cada vida é uma sinfonia que engloba o vivente e o todo cosmico. A sinfonia cósmica é um emaranhado, caótico (o caos é a principal força genesíaca) e, ao mesmo tempo, racional. Por mais que se implementem estratagemas para a colectivização do tempo e para a regularização dos ritmos de vida, nada consegue oblitar a verdade essencial que cada ser humano (ou cada ser senciente) traz consigo ao nascer: cada homem é o primogénito o Infinito; cada vida é única e em cada vida joga-se o destino do universo inteiro.<br />Por isso o novo ano que começa é apenas uma construção colectiva resultante dum calendário que uniu povos e teceu história.<br />Cada dia é novo.<br />Os anos são dias contados. E para contar, há que descontar: para contarmos os dias temos que os reduzir a uma expressão simples, a uma data. Há um dia em que nascemos, um dia em que morreremos, há dias em que estamos felizes, dias em que sofremos, dias que aparentemente não deixam marcas. Mas em cada dia o universo inteiro está presente. Ao descontarmos a cadeia infinitésimal de eventos que fazem um dia, ficamos só com uma abstracção sem conteúdos significativos. E tendemos a procurar efemérides que tragam colorido à nossa imagem de cada dia. E o tempo, visto assim, não é nosso, é uma máquina que nos devora, inexoravelmente e que põe de pé um mundo onde somos praticamente insignificantes.<br />Por isso muitos homens procuram o poder, ou mendigam a atenção dos outros para terem a noção de que são significantes, ou significativos (mas pode-se ser significativo por motivos péssimos, como ser-se Hitler ou Salazar, ou algo assim de monstruoso).<br />Quando logo soarem as badaladas (outra vez o relógio) do novo ano que começa. biliões de seres humanos estarão a colaborar na construção de uma gigantesca ilusão, pois cada homem tem o seu ritmo de vida. Haverá pessoas que estarão a entrar em novos ciclos da sua vida, outras estarão numa fase de estagnação, outras irão morrer daí a poucos dias, horas, minutos...<br />Mas, o que importa, é que cada momento é a hora certa para sermos felizes.<br />Porque não nascemos para a infelicidade: a nossa infelicidade nasce do nosso esquecimento. Em algum momento da nossa vida esquecemo-nos (ou induzem-nos a esquecer) de que somos felizes. E a partir daí julgamos que o sofrimento é o nosso estado natural, a nossa verdadeira condição.<br />Que a mudança que se vai operar no calendário possa ajudar-nos a sair deste esquecimento.<br /><br />_________<br /><span style="font-family: verdana; font-weight: bold; font-style: italic;">"Como já vimos as aflições mentais não desaparecem por si mesmas; não desaparecem simplesmente com o tempo. Chegam ao fim apenas como resultado de um esforço consciente para as minar, diminuir a sua força e por fim eliminá-las em conjunto.</span><br /><br /><span style="font-family: verdana; font-weight: bold; font-style: italic;">Se desejamos ser bem sucedidos, devemos aprender como nos empenharmos a combater as emoções conflituosas. Começamos a nossa prática do Dharma do Buda lendo e escutando mestres experimentados. É assim que desenvolvemos uma melhor compreensão da nossa situação actual no interior do círculo vicioso da vida e nos familiarizamos com os métodos possíveis que podemos praticar para o transcender. Esse estudo leva ao que se chama “compreensão derivada da escuta”. É uma fundação essencial para a nossa evolução espiritual. Depois devemos processar a informação que estudámos até chegarmos a uma profunda convicção. Isto leva à ”compreensão derivada da contemplação”. Uma vez obtida uma verdadeira certeza sobre o assunto estudado, meditamos nele de modo a que a nossa mente possa tornar-se completamente absorvida por ele. Isto leva a um conhecimento empírico chamado “conhecimento derivado da meditação.” <a href="http://www.uniaobudista.pt/dharma.php?show=textos&txtid=7"><span style="font-size:130%;">Dalai Lama</span></a></span>Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1153306422334091492006-07-19T11:46:00.000+01:002006-09-05T23:21:07.343+01:00As meninas e as bombas<a href="http://boingboing.net/images/192642683_915cc8eda3_o.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand" alt="" src="http://boingboing.net/images/192642683_915cc8eda3_o.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Esta imagem tem vários elementos "chocantes", mesmo tendo em conta a anestesia que os media provocam na nossa atitude de base perante o sofrimento das vítimas da guerra, banalizado pelas imagens e pelas notícias que repetem à saciedade o horror que a humanidade espalha pelo mundo.<br />Duas meninas israelitas escrevem mensagens em bombas prestes a serem largadas sobre o Líbano. A sua força destruidora a esta altura já dizimou vidas entre a população civil libaneza, não fazendo distinção de crianças, mulheres, idosos, guerrilheiros, homens, todos eles como nós!, como também são como nós as meninas que escrevem nas bombas. A nossa humanidade está profundamente envolvida no acto de escrever em bombas, e muito especialmente por se tratar de crianças que vêm ao mundo, e nele se mantêm enquanto as deixamos, sob o signo da inocência.<br />Ora, se estas crianças são como nós, também é verdade que nós somos como elas, embora a consciência disso nem sempre seja muito clara. E elas não estarão a fazer aquilo por sua iniciativa, pois alguém as conduziu a um local altamento vigiado e controlado por militares e lhes deu acesso às bombas e lhes apresentou como louvável o acto de escrever mensagens naquelas bombas. Há,portanto, uma sociedade inteira envolvida nos mecanismos da lógica de ódio e perversão da humanidade, a ponto de tornar natural vários actos contrários ao que seria natural, pois o que é natural é que os homens se esforcem por alimentar o amor e todos os comportamentos envolvidos na sua expansão.<br />Levar crianças a um local onde se prepara a guerra e fazê-las participar intimamente na guerra, tornando-a acessível ao seu imaginário e às suas emoções, talvez até no âmbito duma visita de estudo, mas não sei qual seria o caso retratado na foto, é um acto absolutamente contrário ao que deve ser a educação das crianças.<br />Mas não se pense que é só naquele caso e naquela sociedade que se promovem actos deste tipo, contrários ao que deve ser a educação. Mesmo entre nós estes actos são praticados sem problemas, com toda a naturalidade. A escola, só por si, pela forma como está estruturada, fomenta a destruição da humanidade inocente, ao impor às crianças modos de estar padronizados e enformados por concepções do mundo demasiado rígidas e, em quase todos os casos, insuficientementemente elucidados por uma reflexão integradora e clarificante.<br />A civilização ocidental foi-se gradualmente estruturando em torno de um conjunto de linhas de força que acabaram por erigir o mundo em que hoje vivemos.<br />A forma como nós nos vemos, em confronto com o mundo, com os outros homens, com a Natureza, depende dum conjunto de mecanismos profundamente enraízados no nosso psiquismo, que tornam a nossa mente num cárcere e destroem todas as possibilidades de vivermos em alegria. Vivemos ao sabor dos ditames erráticos e destrutivos do Ego. O "penso, logo existo", saído da fantasmagoria cartesiana, tornou-se progressivamente o fundamento de toda a actividade conciente dos seres humanos do ocidente, ou profundamente inflenciados pela civilização ocidental.<br />Estas bombas que nos chocam simbolizam a nossa atitude de base em relação aos outros: o confronto, o ataque, a agressididade...<br />Consideramos à partida que a nossa afirmação, em todas as áreas da nossa vida, passa por um ataque da posição dos outros, um ataque defensivo, como se o nosso ego estivesse constantemente em risco de perder o seu lugar ao sol. Mesmo que saibamos que a energia incomensurável do sol chega para todos e para cada um, achamos que o quinhão que nos cabe tem mais brilho e calor se os outros se virem privados da mesma parcela de luz solar. E se vemos que outros têm mais luz, parece-nos que a nossa parcela se torna insuficiente...<br />Por isso parece-nos mais fácil atacar do que aceitar as coisas como são na realidade.<br />Na verdade nunca olhamos os outros como a melhor parte do que somos, desde muito condicionamo-nos a encarar a vida como um sistema de trocas: dou-te atenção e tu retribuis, dando-me assim uma prova de vida e de valor.<br />Mas também é chato pensarmos que temos que ser compassivos com todos os seres humanos, mesmo com aqueles que estão do lado de lá da fronteira a apertar um cinto de explosivos. Não serão eles seres humanos também? Eles estão a preparar-se para nos fazer explodir e dão a vida na execução desse acto. Essa é a prova que todos perdem quando o ódio se torna mais forte que o amor, quando a vida é encarada como uma ocasião para fazermos vingar as nossas teimosias, os nossos ódios, as nossas frustrações.<br />Também é claro, claro como a água, que nós aqui neste robordo ocidental da Europa, vivemos num contexto diferente do das crianças da fotografia. Isso é verdade, trata-se dum contexto diferente, as nossas circunstâncias são diferentes, por isso as formas como não vivemos o amor e a compaixão são diversas, muitas vezes não exteriorizadas. Mas vivemos para cá da cortina de ferro com que a Europa da abundância se está a blindar contra a entrada de imigrantes vindos de zonas-problema e pouco estimadas do globo. Diariamante morrem pessoas a tentar atravessar desertos, extensões de água, muros de arame farpado, morrem afogadas, de exaustão, de fome, frio e sede, quase todas elas vítimas de redes mafiosas que lhes prometem o paraíso para lá duma viagem plena de riscos e sem os confortos que de barato damos ao gado.<br />Muitas guerras do Líbano, diariamente, sem o ribombar das bombas e a demência alada dos aviões de combate, sem os holofotes dos media, só com a nossa indiferença em relação ao sofrimento alheio.<br />E não precisamos do cinto de explosivos e da sujidade dos atentados. A indiferença mata com igual exactidão.<br />Por outro lado aceitamos com toda a naturalidade que os governos do lado de cá da cortina de ferro ponham em causa os direitos sociais, conquistados ao longo de mais de dois séculos de luta, em nome dum economicismo amoral e desumano que enche os cofres das multinacionais e das empresas que se dedicam à usura e à especulação selvagem.<br />O desmantelamento do Estado social, aliado ao uso totalitário dos sistemas democráticos, cada vez mais esvaziados de densidade político-moral, para a estruturação de projectos de poder mais relacionados com o vedetismo imediatista dos líderes políticos do que com o bem público, trará no próximo futuro um refinamento da indiferença individual e pública. Ver-nos-emos cada vez mais mergulhados numa sociedade do consumo e da fruição, onde ser fraco, doente, velho, deficiente, inconformista..., será visto como um escândalo insuportável, como uma contrariedade que há que descartar a todo o custo.<br />Todas as bombas do ódio, da indiferença e do adormecimento, ou embotamento, moral explodirão. E tal como as meninas da foto descobrirão, mais cedo ou mais tarde, com muita ou pouca consciência, acabaremos por descobrir que nós somos as principais vítimas da nossa indiferença, do nosso ódio, do nosso conformismo hedonista.Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1144776712218969062006-04-11T17:49:00.000+01:002006-05-03T11:55:54.346+01:00O sofrimento<a href="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=03115263835248"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=03115263835248" border="0" /></a><br />Uma das coisas mais difíceis é reconhecermos que a causa principal do nosso sofrimento, está em nós, é, em certa medida, nós, o nosso ego.<br />O ego toma conta da mente consciente e alimenta incessantemente uma corrente de pensamentos, anárquica, imparável, desgastante. Essa actividade pensante incessante desgasta-nos de forma inexorável. Sem que nos apercebamos disso. Julgamos que o desgaste energético resulta da actividade física, mas a actividade mental é muito mais desgastante.<br />E se durante a actividade física nos envolvermos nessa teia de pensamentos sem nexo, o desgaste é multiplicado. É que se acharmos que o que estamos a fazer é penoso, muito difícil, talvez injusto, porque há pessoas que podem dar-se ao luxo de não fazer coisas desta naturezam, etc., etc., estamos a torturar-nos sem razão.<br />Isto porque o que fazemos é algo que nos é dado e que, na sua radicalidade, não tem a ver com o que os outros têm ou não que fazer. A nossa vida, se for comparável a um filme, é uma super-produção em que nós somos os actores principais. Nada do que fazemos está fora do guião. Podemos improvisar, mas isso faz parte do jogo. O que não podemos é ceder o protagonismo a outro actor. Se fizermos estamos a desvirtuar o sentido de toda a produção. A nossa história é tão necessária quanto a história de cada um dos demais seres.<br />Por isso, o que acontece a cada momento, é uma cena duma história que tem um sentido que, muitas vezes, escapa a quem só dá importância a certos pormenores ou, o que é mais comum, a quem só dá importância aos pormenores, desligados do todo em que se inserem. O negativo ou positivo, dependem de factores muitas vezes ligados às apreciações egóicas. Para o ego tudo o que o limita é negativo. O silêncio, a imensidade, a entrega aos outros, a despreocupação, são coisas com as quais o ego se dá mal. Por isso fugimos delas.<br />É impressionante a aversão que a maioria das pessoas tem em relação à meditação. O mergulho na interioridade é recusado, muitas vezes em nome de coisas sem qualquer importância, ou completamente despropositadas. Há até a ideia de que meditar se opõe aos afazeres da nossa vida quotidiana.<br />Nada mais errado.<br />Meditar é a única actividade (para além do sono) em que se dá um excesso de energia, a energia que é consumida fica muito aquém da que é assimilida ou reintegrada nos nossos sistemas vitais. Há um re-equilíbrio de todo o nosso ser, um alinhamento dos centros energéticos e uma harmonização de todas as nossas funções, físicas, emocionais, mentais...<br />O sofrimento resulta da desarmonização vital. O que tem muitos níveis e gradações.<br />O que não devemos acreditar é que o sofrimento físico, as doenças que o provocam, é algo desligado da mente e do espírito. As doenças não são meros acidentes biológicos,lances da roleta genética e ambiental.<br />Também aqui a nossa atitude de base perante a vida é decisiva. O que fazemos e o que não fazemos reverte sobre nós, fazêmo-lo sempre a nós, mesmo que sejam os outros o seu alvo. Se uma pessoa me irrita, essa irritação, que tem origem em mim, provoca-me danos consideráveis a todos os níveis da minha presença no mundo. Pode perturbar a minha relação com o meio circundante, por exemplo, ao fazer com que eu evite os locais frequentados por essa pessoa, mas também pode manifestar-se a níveis mais entranhados. Isto porque ao rejeitar uma pessoa, estou a rejeitar-me a mim mesmo. Nã vivemos separados.<br />Por isso, a integração, ou o que em muitas tradições religiosas tem o nome de <em>perdão, </em>é a chave para evitarmos o sofrimento.<br />Se estou num sítio onde não queria estar, estou a recusar um momento da minha vida, estou a desligar-me duma parte de mim. Se estou a trabalhar, mas a minha mente está a pensar nas férias ou no que eu poderia estar a fazer nesse momento, se pudesse escolher ir para outro lugar, estou, de facto a criar cisão em mim, estou a rejeitar uma parte decisiva de mim, este momento da minha presença do mundo. Vivemos constantemente em dissossiação. Estamos, portanto, a matar-nos de uma forma permanente e irrevogável, enquanto nos mantivermos sob a ditadura do ego.<br />Não se trata de não exigirmos justiça e respeito. Trata-se de aceitarmos que somos imp0rtantes, seja qual for a situação em que nos encontremos. Se a realidade nos acolhe neste aqui e neste agora, é porque somos necessários, aqui e agora. Por isso, estamos sempre em ligação com a fonte primordial de tudo. À luz dessa fonte, ou desse princípio ontológico, todos os momentos da nossa vida são equivalentes. Nada é desprezível ou supérfulo. Estejamos a lavar a loiça ou nalgum lugar mediático a tentar salvar o mundo, estamos a fazer o que é preciso. São pequenos passos que nos levam a percorrer grandes distâncias. Por vezes é necessário saltar, correndo riscos, mas no fim do trajecto, contas feitas ao que fizemos, cada um dos momentos da caminhada é igualmente necessário.<br />Por isso, a preocupação com os desafios que teremos, ou não que enfrentar, é uma fonte de sofrimento, de apreensão, que é supérfula, como, aliás, todas as fontes de sofrimento. Se temos sede, não precisamos dum poço vazio. E se soubermos que um poço está vazio, não nos abeiramos dele quando temos sede. Por isso, os acontecimentos futuros, que não existem, não devem ser fonte de preocupação.<br />Devemos, sempre, perguntar: "o que é que eu tenho que fazer agora? O que é que eu posso fazer agora?"<br />Se podemos fazer algo, agora, para resolver algum problema, então devemos fazê-lo. Mas se tal não for possível, para quê desgartar-nos?Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1142615340298547792006-03-17T16:48:00.000+00:002006-03-17T17:38:46.970+00:00O desapego<a href="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=02173650536238"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px;" src="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=02173650536238" border="0" alt="" /></a><br /><br />Para nos aproximarmos do âmago do existir, temos que criar distanciamentos, como quem navega num rio e se afasta das margens para melhor aproveitar a força da corrente.<br />Somos condicionados,desde que nascemos, a crer que precisamos de ajuda externa para desempenharmos todas as tarefas decisivas, que nos são exigidas pela vida. <br />Ficamos convictamente dependentes das circunstâncias, das pessoas, da "sorte". <br />Achamos que estamos afastados dum estado de graça que, desgraçadamente, e sem que nos apercebamos no estado de consciência em que normalmente enfrentamos a vida, é o nosso estado natural.<br />O universo foi criado, é-o continuamente, para nós. O big-bang inicial, chama pelo nosso nome, o nosso nascimento é uma convocação que se ouve desde o início de tudo. Como poderíamos, então, ser deserdados da sorte?<br />Ora, a verdade é que quanto mais apegados estivermos ao que irá acontecer, mais desligados estaremos do presente em que nos situamos a cada momento. E quanto mais apegados estivermos às coisas e aos processos que nos circundam, mais desligados estamos da nossa realidade como presença. Nós estamos presentes num presente. Essa é a nossa condição original.<br />Contudo, estamos sempre presos ao passado e às expectativas, muitas vezes carregadas de ansiedade, acerca do futuro.<br />Amar é deixar fluir o que se dá. Deixar a vida rumar ao sabor da corrente da energia pura de que todos os seres espirituais são feitos (no fundo, todos os seres são espirituais, pois a matéria é aquilo que serve de base para a manifestação do espírito) e de que se alimentam.<br />Amar não é uma forma de posse, mas de libertação. O bem mais precioso que podemos dar a quem amamos, é a liberdade, é a soltura.<br />Prender os outros às nossas carências e às nossas expectativas acerca de um estado que supere o presente, é o oposto do amor. Amar é recusar barreiras, assumir o infinito em nós, como uma vocação para a criação. E criar é aumentar o espaço vital do espírito. <br />Dar soltura é deixar os outros seguir o seu apelo. Todos são convocados. Poucos se apercebem disso. Pois a vida está carregada de sofrimento. E a maior parte das nossas crenças acerca da forma como tudo funciona, nasce do sofrimento. Há quem acredite em Deus por causa do sofrimento e, igualmente, muitos não acreditam em Deus pela mesma razão.<br />O sofrimento gera revolta e insatisfação. Coisas positivas quando enraízadas na vida, mas muito enclausurantes quando estão directamente à forma como encaramos o sentido da nossa vida, se a vida exigir mudanças na nossa forma de ver o mundo, essas mudanças devem ser feitas sem hesitações. Se nos assumirmos à partida como perdedores, então nunca iremos "ganhar". Mas no fundo não há nada mais para ganhar, pois a vida, ela mesma, é já o prémio, nós já estamos vivos, não há nada acima disso, nada mais para ser alcançado do que a vida em plenitude. Devemos, por isso, estar dispostos a perder, de forma irreversível, tudo o que nos afasta da plenitude da vida. Até a nossa situação actual. A vida um caudal de transformações. <br />O desejo não é mais do que um efeito colateral de estarmos vivos. Pode ajudar-nos a andar mais depressa para um objectivo, mas muitas vezes enleia-nos numa teia de expectativas e frustrações.<br />Por isso o desapego é a chave.<br />O desapego em relação às pessoas e às coisas, em relação às circunstâncias.<br />As nossas crenças sobre a realidade e sobre nós mesmos são a principal fonte de frustração (ou de fracasso).<br />As pessoas não são "nossas", nem as coisas. Nada é nosso. Em verdade. A realidade não tem como centro as nossas expectativas. <br />O ego é a fonte dos apegos.<br />O combate ao egotismo é o combate decisivo.Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1140748608911436192006-02-24T02:29:00.000+00:002006-03-03T12:25:52.386+00:00somos mais...<a href="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=00712835907327"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px;" src="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=00712835907327" border="0" alt="" /></a><br />Se nós tivéssemos plena consciência do que é um ser humano, o nosso deslumbramento perante qualquer um dos nossos semelhantes, qualquer um, seria duma grandeza tal que não resistiríamos a sentir-nos abraçados por uma força maior, que nos infundiria uma alegria tão intensa que nos percutiria quase até aos limites do suportável.<br />Trataríamos cada uma das pessoas com quem falássemos com a mesma deferência com que os súbditos tratam um rei, com que os fiéis tratam o papa, por exemplo. Pois o que têm esses homens a mais que qualquer um dos demais?<br />Do mais humilde sem-abrigo, ao mais poderoso dos homens, cada homem é uma centelha divina que traz o selo do infinito impresso na sua interioridade. Isto apesar das máscaras, dos muros, das fugas, das mentiras, das negações.<br />Se pudéssemos ver-nos, a cada momento, a partir do ponto de vista de quem está pronto a partir, de quem neste mundo não tem uma morada definitiva, de quem, enfim, tem que construir uma frágil jangada para enfrentar as correntezas da vida, daríamos muito mais valor ao que somos, em verdade. E veríamos os outros à luz dessa verdade radical.<br />Os bens materiais, o estatuto, as pequenas grandezas que insuflam o nosso ego com um falso sentido de superioridade, tudo isso tem a marca da efemeridade e acabará por se desfazer em pó. No entanto, muitos de nós guardamos no nosso coração recordações de coisas sem utilidade, simples, gráceis e altamente siginificativas: o sorriso duma criança num dia em que estávamos tristes, o primeiro beijo, um encontro com alguém que nos marcou, uma festa em que nos sentimos amados, um presente que nos fez reconhecer o valor da amizade... Se isso permanece, apesar da passagem dos anos, das mudanças que a vida foi trazendo, do envelhecimento, do cansaço, é porque é feito duma matéria que não se corrompe, antes nos enriquece. Talvez isso fique connosco durante mais tempo do que conseguimos imaginar...<br />E contudo há coisas que fazemos que nos impedem de ter mais experiências deste tipo. De cada vez que nos fechamos ao diálogo, estamos a criar barreiras que vão construindo uma prisão onde a nossa alma vai perdendo o uso das suas mais nobres capacidades. Tal como existem órgãos no nosso corpo que se atrofiam com a falta de exercício, na nossa alma há funções que ficam adormecidas. As consequências disso na nossa vida são tremendas, uma vez que nascemos com uma estranha característica: podemos tornar-nos naquilo em que acreditarmos.<br />Se acreditarmos que não temos coração e que a vida é uma competição em que devemos tentar tudo para sermos melhores que os outros, então seremos seres com uma deficiência cardíaca indiagnosticável pela medicina, mas que nos envenenará os dias e nos transformará em seres febris com uma vida miserável e árida. Por mais que tenhamos, estatuto, dinheiro, etc., etc., há um vazio sempre a crescer que acabará por nos precipitar para uma morte sem remédio e profundamente injusta, pois, aos nossos olhos, morrer será uma inconsistência da vida, irracional e imerecida. Mas está errado chamarmos morte apenas ao fim do processo, pois a morte é exactamente esse processo de mumificação a que nos submetemos ao longo da vida, primeiro em virtude daquilo a que se chama educação e, depois, através das escolhas egóticas que vão levando a que nos resumamos a uma animalidade industrializada.<br />Um ego entre egos, num mundo de fantasmas que odeiam a vida.<br />E há muita crueldade na forma como rejeitamos o valor intrínseco dos outros. Somos condicionados pela sociedade a conformarmo-nos às tendências dos grupos sociais que integramos. Vivemos muito marcados pela opinião dos outros e é muito fácil ir aí buscar uma pauta para dirigirmos as nossas escolhas. E assim rendemo-nos à conformidade e aqueles que não cabem nela são encarados como apátridas e indigentes. Muitos artistas, por exemplo, sofreram na pele a rejeição dos seus contemporâneos, precisamente devido ao seu <strong>inconformismo</strong>. Se alguém recusa viver sob os ditames do socialmente aceite, está a pôr em causa uma ordem estabelecida. Essa ordem visa transformar cada ser humano numa força de produção. Tal e qual uma máquina.<br />Ora, a <strong>produção</strong> está longe da <strong>criação</strong>.<br />De acordo com grande parte das tradições culturais o universo foi criado e não produzido. Mesmo o demiurgo do Timeu de Platão é um artífice, um criador e não um operário, mero produtor (re-produtor). E cria de acordo com modelos eternos. Pois criar é trazer à vida. Produzir é colocar no mundo, atirar para o mundo algo. Quem cria tem que nutrir, tem que se dar à sua criatura, ou criação. É um acto de amor. "Amor" num sentido pleno, sem exclusividade e sem os entraves que normalmente colocamos à força expansiva que se esconde nessa palavra tão dita, mas tão mal-dita.<br />Se as fábricas <em>criassem </em>não poluiriam, nem necessitariam da máquina imensa de produção de desejo a que chamamos publicidade. Também não pagariam salários de miséria. Na verdade não há dinheiro que pague o acto de criar.<br />O inconformismo dos artistas, dos poetas, dos loucos, dos génios, das crianças, é uma manifestação do poder criador. Todos os homens nascem com esse poder, pois o seu nascimento é um facto tão importante na história do universo quanto o big-bang de que fala a física. Nenhum homem nasce fora dos desígnios do universo. Todos os homens são convocados para acrescentarem algo, para ajudarem à Criação.<br />Mas com isto não estamos a esquecer os homens que se entregam ao mal. Também eles nasceram no seio da Criação. E a monstruosidade dos crimes, dos genocídios, da exploração do homem pelo homem reside precisamente na negação desta evidência ontológica: cada homem traz em si uma centelha divina.<br />E qualquer homem que detenha poder sobre outros homens deve lembrar-se constantemente que assumiu uma posição iníqua, ao julgar que manda, que pode limitar a divindade que veio ao mundo na pessoa de cada um dos seus semelhantes. É óbvio que as sociedades e as suas instituições têm que ser geridas. Mas o espírito de serviço deve ser a inspiração de cada indivíduo que assuma cargos de mando. A simples preferência dada a pessoas próximas é uma desconsideração de todas as outras e isso pesa.<br />No entanto, ninguém tem verdadeiro poder a não ser o de se orientar na vida. Quem nos governa, ou quem tem um qualquer cargo de chefia em relação ao qual estejamos subordinados, não manda verdadeiramente no nosso poder de sermos quem podemos ser. Pois o que dita as nossas obediências aos poderes fácticos da vida não é o mais importante de nós. A nossa melhor parte vive para além disso. É parte integrante do infinito.<br />Poderemos ser governantes, governados, milionários ou mendigos que nenhum desses estados será mais ou menos à luz do que somos em verdade.<br />E como poderemos descobrir o que somos em verdade?<br />É simples. Basta que prestemos atenção ao que em nós é perecível. Posso ter, por exemplo, um cargo de prestígio, posso ter estatuto e meios de fortuna consideráveis, mas basta uma coisa simples como um derrame cerebral para destruir essa situação. Posso tornar-me numa pessoa dependente e incapacitada de levar a vida que levei até aqui... Mas aquilo que sou em verdade não poderá ser diminuído ou limitado. Embora na prática a minha atitude perante a vida acabe por me limitar no contacto que tenho com esse fundamento daquilo que sou.<br />Isso é o pior que nos pode acontecer. Morrermos de sede à beira da mais deslumbrante fonte de água fresca.Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1140524549506577122006-02-21T12:07:00.000+00:002006-02-21T12:24:38.590+00:00nadifonia<a href="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=00088013299010"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=00088013299010" border="0" /></a><br />No lado de dentro da noite<br />as esquinas das coisas são de gelado de limão<br />quase a brilhar de tanto tempo a derreter<br />e as bocas de sermos com a altivez de papel de embrulho<br />sorvem o silêncio gota a gota até à saciedade possível<br />nas horas de pranto lento em banho-maria<br />de solidão e ovos escalfados com universos por nascer<br />a boiar-lhes na gema quase a solidificar<br />e a fome não cessa<br />a fome de ter uma pele que voe para lá dos espaços do contentamento<br />vela de ir ir à Índia retesada no mastro de querer vencer o tempo<br />e a quietude da melancolia das árvores<br />e os olhos<br />são dois buracos na parede do peep-show da vida<br />moeda a moeda<br />a realidade despe-se e mostra a sua nudez sem ternura<br />pássaro morto na gaiola dourada do desejo<br />não ter um eu<br />é uma saída<br />a chave é a alegria de nada quererPaulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1140269355195886122006-02-18T12:51:00.001+00:002008-09-04T14:25:44.842+01:00This side up<a href="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=02035066495050"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 400px; text-align: center;" alt="" src="http://www.1000imagens.com/dotnet/1000imagens.aspx?ID=02035066495050" border="0" /></a><br />Como sonâmbulos, os homens arrastam-se, muitas vezes, pela vida, como se não estivesse em seu poder alcançar a felicidade que lhes vem bem entranhada na alma. Quando nascem tornam-se densos, enraízam-se na matéria e fazem com ela um pacto de não-agressão. "Eu acredito na materialidade da vida e a matéria cuidará de me dar tudo aquilo de que necessito".<br />Desta asserção até à rendição completa a uma vida desligada de qualquer fonte de sentido, vai um pequeno passo.<br />A matéria é bruta. E é brutal. Se nos acreditarmos materiais, encarar-nos-emos sempre como imperfeitos, como seres carentes e insatisfeitos. É que no mundo material há sempre mais coisas que nos faltam do que aquelas que temos. E as pessoas, quando são integralmente materiais (aceitando isso como possível), vivem em função do seu ego. E nunca se dão incondicionalmente. Com medo de se perderem de si e do seu projecto de vida que, como no caso das formigas, consiste em acumular bens materiais e "respeito" por parte das outras formigas.<br />Crescer é uma espécie de convalescença.<br />Quando nascemos o impacto da nossa vida ao mundo é terrível.<br />Descobrimo-nos presos a um corpo que é menos subtil e muito menos rápido e ágil que a nossa consciência. O pensamento cedo se tem que condicionar às formas rígidas da nossa acção material. Com bastante decepção descobrimos que só podemos interagir com os outros se aceitarmos aprisionar o nosso pensamento na prisão labiríntica duma língua. E essa língua obriga-nos a restringir o nosso mundo ao horizonte do dizível.<br />Isso é um trauma terrível.<br />É como se, ao nascer, tivéssemos sofrido um acidente terrível e nos descobríssemos, todos engessados, num centro de fisioterapia. Toda a nossa infância corresponde a um esforço constante para aprendermos a viver com essas limitações funcionais. E há mecanismos sociais infalíveis nesse processo. A escola, a família, a televisão, a moda, o consumismo, etc.<br />Pela adolescência já não acreditamos na possibilidade de recuperação. Pois já nos esquecemos do que éramos antes do "desastre".<br />E vivemos neste sonambulismo profundo. Virados para fora, exilados de nós próprios, do nosso eu verdadeiro, que, paradoxalmente, não é um "eu", mas uma abertura para o infinito.<br />Se acharmos que algo nos falta, então estamos a viver sob o domínio do ego, na escravatura da consciência finita, encerrada nas crenças e nos hábitos dum eterno convalescente.<br />Por isso, educar deveria ser <em>des-formar</em>. Libertar as pessoas de todas as formas limitativas do seu destino excessivo. Mas primeiro temos que nos libertar a nós.<br />Não acreditando em tudo o que nos diga que somos mínimos, que somos infelizes, que algo nos falta.<br />A frustração mata. De muitas maneiras. Há pessoas que matam por frustração, outras matam-se pelo mesmo motivo, outras, ainda, adoecem e não conseguem viver-se em plenitude.<br />E uma das coisas que são mais urgentes é levar as pessoas a pensarem por si próprias, não de acordo com a razão ensimesmada, mas com a alma toda, com o coração e com todas as células do seu corpo.<br />Sonhar deveria ser a única obrigação de cidadania. Amar, o único mandamento moral.<br />Quem sonha não precisa de se entregar a formas destrutivas de ir para além das limitações da vida material e egóica.<br />Quem ama, vive em autenticidade.<br />E todos deveriam ter direito à solidão.Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1140183331489512192006-02-17T12:58:00.001+00:002006-02-18T12:49:35.500+00:00alienação<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/6784/1765/1600/remorso.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://photos1.blogger.com/blogger/6784/1765/400/remorso.jpg" border="0" alt="" /></a><br />Nós somos,ao nível da consciência egóica, aquilo em que acreditamos.<br />Nós somos, a esse nível, o que acreditamos ser. Se acreditamos ser doença, somos doentes, se acreditamos ser tristeza,somos tristes, até nas mais ínfimas coisas da vida quotidiana, como comprar um bilhete de autocarro, por exemplo. Tristemente compramos um bilhete, vergados pelo peso do preço injusto e recém-aumentado... E, nesse caso, não nos faltarão razões para acreditarmos na tristeza da nossa vida: somos governandos por marcianos e esse facto é indesmentível, como poderia? Qualquer dia o senhor Spielberg e o inenarrável Tom Cruise ainda vêm cá filmar uma sequela da guerra dos mundos...<br />Ainda há dias uma senhora que está à frente do ministério da educação dizia que as aldeias onde vão fechar escolas já estão mortas. <br />No passado,ou noutras paragens mais acaloradas, os tiraninhos usavam outros meios, menos eufemisticos, para se fazerem respeitar. <br />Mas vivemos na era do neoliberalismo sem ética. Tudo é permitido em nome do défice. E, de facto, o défice de humanidade aumenta a olhos vistos. Essa gente não tem espelhos? Nessas aldeias que estão "moribundas" que, nesta voragem de insanidade que assaltou a nossa casa comum, vão ver a sua escola fechar em nome da lista do merceeiro-mor e do progresso dos TGVs e das Otas e das Opas hostis abençoadas por quem (des-)manda, nessas aldeias ainda se vive a sério, luta-se pelo possível.<br />Eu, no que me toca, recuso-me a acreditar na tristeza. Esta gente que paira acima da cabeça do povo, é triste, é verdade. Mas o seu exemplo faz-me acreditar cada vez mais na alegria.<br />No meu coração mandam os que lá estão. E esse é o único governo que interessa.<br />E, de resto, nada pode impedir-me de ser livre. Não falo daquela liberdade muito <br />servil de quem anda por aí e faz o que quer, e assim, mas a liberdade de me acreditar irmão do vento, do sol, da madrugada e dos pardais.<br />Tudo coisas que não pagam Iva.<br />Nem tapam o défice. Porque são excessivas.<br />Quem se acredita pequenino, quem se acredita deficitário, é, pequenino e deficitário em virtude de um capricho seu. Porque todos nós somos imensos, mesmo aqueles que se julgam mais do que os outros, e assim se apoucam, e querem decretar o fim de aldeias centenárias. <br />Mas deixemos os loucos entregues as seus legítimos devaneios. É certo que estão a delapidar o nosso futuro material. Isso é inegável. Mas mesmo assim estão entretidos com coisas fúteis. E enquanto viverem entretidos o mundo vai-se livrando dos campos de tortura e das inquisições que acendem fogueiras. Se bem que nesse campo exista muito a fazer. Por isso, a globalização que avance, que o progresso neoliberal se instale por todo lado. Assim os tiraninhos do século XXI dos decretos e das bulas, terão, em todo o lado, o seu parque de diversões. E os povos serão deixados e paz, para viverem a sério.<br />Quanto ao fecho das escolas, talvez seja essa uma medida muito acertada, no desacerto de quem a decreta por raiva, por pura raiva, pois as pessoas atrevem-se a viver fora dos padrões dos engomadinhos intelectuais da esquerda pós-moderna.<br />Quando todas as escolas fecharem, quando todos os homens, sem excepção, assumirem como sua missão existencial a educação de si próprios e a compaixão para com todos os outros, quando deixarmos de ter centros de detenção infantil, centros de domesticação do futuro, então, ninguém acreditará na tristeza.<br />Mas até lá talvez os tristes possam dar umas voltinhas de comboio de alta velocidade. Deve dar um belo passeio domingueiro. E não custará muito arranjar um farnel e juntar o montante necessário para os bilhetes. Isto se não se for funcionário público ou psicopata dos jornais da tvi. Esses ainda terão de prestar contas aos gestores do parque de diversões. Talvez possam ir dar umas voltitas no comboio-fantasma que neste momento está ancaixotado à espera doutro local para instalação da feira popular. Que tal nos jardins do palácio de S. Bento?Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1139585871683817022006-02-10T15:18:00.000+00:002006-02-10T15:58:58.720+00:00almas que se tocam<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/6784/1765/1600/pmbas.0.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://photos1.blogger.com/blogger/6784/1765/400/pmbas.0.jpg" border="0" alt="" /></a><br />quando somos um<br />o coração é pleno de espaços<br />um rio corre-nos pelos braços<br />e a música das esferas<br />é a harmonia de estarmos ambíguos<br />na sintonia que acalma as esperas<br />as sedes e as inquietações<br />quando o tempo<br />é uma ponte<br />temos em nós a fonte<br />que resgata o cosmos do nada<br />no instante e da agonia<br />do amor ter que ser cumprido<br />e nos meus cabelos a madrugada<br />do teu hálito distante <br />semeia ecos do tempo do olvido<br />e tudo é cortante<br />a água duma fonte<br />o que está para lá do manto da noite<br />a saudade <br />e a morte é o reverso do silêncioPaulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1137687176070655352006-01-19T16:05:00.000+00:002006-01-19T16:12:56.086+00:00A comunicação<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://photos1.blogger.com/blogger/6784/1765/1600/janela.s.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://photos1.blogger.com/blogger/6784/1765/400/janela.s.jpg" border="0" alt="" /></a><br />A comunicação está no centro do actual desenvolvimento do mundo. A chamada “aldeia global” está cada vez mais pequena. A aldeia dos nossos avós era incomensuravelmente maior, com um tempo ritmado pelo despertar dos pássaros assim que se ouvia o primeiro galo e pelo gargarejo dos cântaros na fonte de água fresca. O sino fazia-se ouvir sempre que atenção de todos era requerida para a resolução de qualquer problema ou para o cumprimento dos rituais.<br />Mas não estou a fazer a apologia da vida campestre, nem me motiva qualquer bucolismo assente na recusa do progresso. Esse tipo de atitude ceifou muitas vidas e multiplicou a dor e a miséria, obrigando milhões de pessoas a emigrar.<br />O que está em causa nesta comparação é algo de muito profundo. É o modo como somos e como construímos a nossa humanidade, como nos damos aos outros e à vida, ou como não nos damos.<br />Comunicar é, acima de tudo, comungar, partilhar com os outros o que nos faz crescer, abrir espaços de humanidade e de encontro autêntico com o que nos convoca para um aqui e um agora. A diversidade é, assim, uma chave de valor incomensurável. Não devemos criar em nós a necessidade de projectarmos nos outros as nossas frustrações, de querermos que o mundo se torne num campo de concentração dominado pelo único ditador verdadeiramente iluminado e supremamente bem-intencionado: o nosso ego, senhor absoluto dum reino fantasmático criado à imagem e semelhança do que nos falta e que queremos exorcizar a todo o custo.<br />Daí derivam todos os moralismos. Herdámos a tendência nefasta de nos recusarmos o prazer e de considerarmos que não deve haver prazer na diversidade, alegria na diferença. Queremos que todos os demais descubram que nós somos em verdade, por um acaso da história, ou por uma predestinação sublime, que nós somos verdadeiramente o que um homem (ou uma mulher, é claro) deve ser. Em suma, a nossa maneira de ser, em todos os sentidos, deve tornar-se numa ortodoxia. A nossa suprema sapiência deve derramar-se sobre a cabeça dos demais, agradecidos, embevecidos, curvados na sua ignorância sebenta, sedentos da verdade que despontou em nós.<br />Por isso qualquer bocejo é uma ofensa, cada objecção, uma calúnia.<br />Um segredo que aprendi com o meu avô materno talvez mostre a grandeza do viver da aldeia em que ele nasceu e cresceu: enquanto se sucederam as figuras régias e os ditadores, as pessoas simples do povo ficavam livres da ilusão de querem ser mais que os outros, da sua aldeia. O senhor doutor vivia numa casa apalaçada e passeava-se à tarde pela rua principal da aldeia e recebia cumprimentos e deferência, os homens de chapéu ao peito e as mulheres com os olhos no chão. E esses mesmos homens e essas mulheres seguiam assim para a sua vida, onde se encaravam como iguais, na desgraça e na simplicidade. E por vezes lutavam contra as calamidades, acompanhavam os moribundos com aconchego e com a mesma humanidade com que mudavam a palha dos animais, com a humildade e a constância das pessoas simples.<br />Noutras paragens, esses mesmos homens e essas mesmas mulheres apedrejaram a guarda e foram ceifados a tiro. São coisas da luta pela dignidade.<br />Mas hoje as pessoas parece que engoliram o senhor doutor. Vêm de fábrica com ele bem entranhado na psique, sempre em agitação frenética e em busca de “respeito”.<br />E em todos os senhores doutores, principalmente nos visceralmente entranhados em cada um, há um ditador em potência. <br />Comunicar, nesse sistema de ser-se, é declamar sentenças, decretar bulas e dogmas, ser “Alguém”.<br />Por isso a qualidade da vida na nossa aldeia é, globalmente, pobre. Miserável, mesmo.<br />Milhões de egos em busca de reconhecimento. À janela dos seus palácios de faz de conta. Windows, Windows, Windows, janelas, janelas, janelas, todos querem janelas para o mundo. O mundo é uma praça imensa rodeada por janelas. As portas estão encerradas ou até já não existem e o Sol já não vem beijar a face destas criaturas que se querem imunes a tudo o que evidencie a sua pequenez, fechadas à imensidade. Se Freud tivesse que ter razão, poderíamos dizer que a humanidade dos nossos dias ficou refém do estádio anal, tal é a fixação de cada um no seu tubo digestivo mental. Como aquele miúdo de um dia engoliu uma moeda de 25 tostões e viu as suas fezes, por ordem médica, exaustivamente remexidas. Foram os 25 tostões mais valiosos que essa criança viu na sua vida, porque passaram pela provação mágica da sua interioridade. Ainda hoje figura, com destaque, na caixa das relíquias da família.<br />Muitos aparelhos, daí a maravilha desta era tecnológica, permitem que o nosso ego se projecte à distância. Mesmo as nossas chamadas no telemóvel conseguem dispersar-se para além da atmosfera terrestre. E isso não é pouco. Vestígios da nossa existência poderão ser detectados por hipotéticos seres inteligentes fora da terra. E o seu grau de inteligência será proporcional, como é óbvio, à sua capacidade de se conectarem com o nosso ego.<br />Esta projecção à distância e as maravilhas que ela traz, torna cada vez mais difícil que consigamos livrar-nos de nós, da nossa ditadura sobre a vida em nós. Pelo que a fortuna dos Gates deste mundo continua mais do que assegurada.<br />Enquanto isso o planeta definha. As baterias dos inúmeros aparelhos de assistência ao egotismo, a poluição resultante da queima de combustíveis fósseis, no frenesim industrial de manutenção do imperialismo do fantasma que é, a consumação em grande dum cartesianismo pequenino, dos pequeninos, tudo isso, juntamente com tudo o mais que seria fastidioso aqui referir, está a destruir a Natureza.<br />O que é bom, porque o ego da malta ecologista tem com que se alimentar.Paulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-18122044.post-1133480741855510982005-12-01T22:57:00.000+00:002005-12-01T23:45:41.906+00:00"Diz sim à vida"<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/6784/1765/1600/infinito.s.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="http://photos1.blogger.com/blogger/6784/1765/400/infinito.s.jpg" border="0" alt="" /></a><br />Se nos fechamos à vida estamos a quebrar a corrente que une tudo, estamos a deixar que a energia que há no existir fique aprisionada, como a água num charco. E ficaremos mergulhados num pântano, a nossa consciência separada, criadora de cisão…<br />A negatividade é o nosso pior inimigo. Se chove e achamos que isso estraga o nosso dia, se faz sol e achamos que isso é mau por causa da falta de Ozono nas camadas superiores da atmosfera, se chegamos tarde à estação e achamos que “perdemos” o comboio… isso pode dar lugar a uma sucessão de “males” que acabarão por alimentar o que, conjuntamente com a frustração, mais nos destrói por dentro: a auto-comiseração.<br />Se nós sentimos pena de nós próprios queremos ser o centro da atenção dos outros. Achamos mesmo que os outros têm o dever de reparar na nossa tristeza e de reagir a ela, confortando-nos e quando isso não acontece, sentimo-nos injustiçados e a nossa revolta aumenta e com ela a negatividade que esteve na origem de tudo. Não há nada mais triste do que isso, vermos alguém que nasceu para ser gente, que foi trazido à existência para fazer parte da harmonia cósmica, reduzir-se à condição de erro existencial. E quando respeitamos essa pessoa e até recebemos por seu intermédio alguns ensinamentos bem significativos, a coisa torna-se ainda mais “triste”.<br />Mas a nossa sociedade funciona assim, alimenta-se da tristeza. Nós somos como abutres da desgraça alheia: paramos na estrada para vermos as consequências dos acidentes (no Verão os bombeiros chegaram a queixar-se que os mirones obstaculizavam a sua acção no combate aos incêncios), e não perdemos uma ocasião para mostrarmos o quanto temos pena de quem sofre, seja aqui bem ao pé, seja nalgum escaldante deserto acossado pela fome (que começa, paradoxalmente “aqui” onde as pessoas morrem aos milhares por causa de excessos alimentares). <br />Muitos dos nossos “problemas” desapareceriam se lhes prestássemos a mínima atenção, se os olhássemos de frente. O que não está em nosso poder não deverá ser para nós um “problema”. Mesmo as situações que nos causam tristeza podem requerer de nós uma atitude de maior atenção ao que se passa em nós e à nossa volta. O “à nossa volta” é muito menos importante do que o que se passa “em nós”. <br />Não faltam pessoas que se aproximam de nós quando apregoamos a nossa desgraça. Mas o mais importante é vermos que pessoas se alegram com a nossa alegria. É que a negatividade que se instala no coração dos homens desperta um monstro terrível que tudo fará para perpetuar a desgraça e a negatividade: a inveja.<br />Não sentir inveja é um dos principais sintomas da nossa felicidade. Se somos felizes não sentimos inveja.<br />Se a vida se resumir a uma guerra de Egos, a uma disputa pela conquista de estatuto e de reconhecimento, então estamos perdidos. Estamos a desbaratar o capital com que fomos investidos pela existência: o sermos capazes de nos admirarmos com o espectáculo do mundo, o sentirmos o apelo do infinito em cada coisa que se nos apresenta…<br />E o mais é “lixo”, é poluição antropológicaPaulo Feitaishttp://www.blogger.com/profile/04729704799898976372noreply@blogger.com1